quarta-feira, outubro 29, 2003

Golo


Depois do aquecimento, os jogadores recolhem aos balneários. È o último jogo do Campeonato e só a vitória interessa para garantir o primeiro lugar. O estádio está completamente lotado num ambiente de festa, que transborda para além dos limites do estádio, pois o encontro é transmitido para todo o País, onde milhões de adeptos esperam ansiosos pelo apito inicial.
Já no balneário, o ponta-de-lança da equipa da casa, telefona para a sua esposa, a saber se ela já se encontra no estádio. A sua mãe telefonou e ela está a acabar de sair da sua casa, ao que chegará atrasada, mas irá. Desliga o telemóvel, nervoso. A sua esposa sempre foi vista como um talismã para ele e o facto de ela não assistir ao desafio de início perturba-o, as suas pernas tremem e a sua mente retêm aquele pensamento, de que a sua mulher chegará atrasada ao desafio.
Tem início o jogo, nas bancadas o público, festivamente, executa a “Hola”, enquanto a equipa da casa começa a “pegar no jogo”, procurando resolvê-lo cedo, pois só a vitória fará deles os novos campeões nacionais. À beira do intervalo, um defesa da equipa adversário comete falta para grande penalidade. O árbitro apita e aponta para a marca de grande penalidade e, em seguida, mostra o cartão amarelo ao defesa. O ruído das bancadas torna-se ensurdecedor. O ponta-de-lança avança para a bola, o guarda-redes move-se para o seu lado direito e a bola é rematada para o seu lado esquerdo, não havia nada a fazer, mas a bola caprichosamente vai ao poste e sai pela linha de fundo, pontapé de baliza que o árbitro não deixa marcar pois estão findos os primeiros quarenta e cinco minutos.
Desiludido, ele volta aos balneários e telefona novamente para a sua esposa. Esta encontra-se neste momento presa num grande engarrafamento e não vê jeito de sair dele tão cedo. O ponta-de-lança promete-lhe então um golo e volta ao campo com essa promessa em mente.
Os minutos vão passando e só à beira do fim do jogo é que o engarrafamento foi ultrapassado e a velocidade normal é retomada. A criança impaciente e sem noção do que se passa, remexe-se e tenta-se livrar do cinto que a mantém imobilizada há demasiado tempo. A mãe diz para ele estar sossegado e vira-se para o ver melhor, esquecendo-se de prestar atenção aos outros carros.
No campo, os minutos passam e a festa começa a dar lugar à impaciência dos adeptos, que começam a assobiar. Nisto, um cruzamento bem medido por parte do extremo-esquerdo, encontra a cabeça do ponta-de-lança, que cabeceia para o fundo das redes adversárias fazendo a festa da vitória.
A mulher, alheia ao que se passa na estrada, tenta prender o filho, nisto, olha e vê que vai chocar com um outro carro à frente e trava a fundo. O filho, liberto do cinto que o prendia à cadeira de bebé, voa e embate contra o vidro do carro, estilhaçando-o, enquanto na rádio, o comentador desportivo grita o golo do progenitor.

PP

sábado, outubro 25, 2003

Diversos



Hoje escrevo só por uma razão. Embora um amigo tenha dito que este blog está a ter demasiados comentários futebolísticos, vou voltar a abordar, mas após o dia de hoje vou tentar ao máximo evitar comentar o futebol, sendo certo que é difícil para alguém formado em Desporto.
O dia de hoje em Portugal, quer se queira, quer não, é a inauguração da Catebral do Futebol, o novo Estádio da Luz, um estádio moderno, que é uma prenda de anos antecipada pelo centenário do Sport Lisboa e Benfica.
Seguindo em frente, e sem falar de desporto, passo para uma visão actual da caixa mágica que mudou o Mundo. Os canais nacionais privados estão em decadência tão grande como os seus outros dois companheiros públicos. Séries de qualidade como Push, Nevada, que hoje assisti na Sic Radical já não fazem paste da grelha televisiva que compunha antigamente esses canais. Bons tempos em que a TVI apresentava séries como Profiler, Babylon 5, Ficheiros Secretos, Profiler, Ally McBeal, Causa Justa e Seinfeld, entre outros grandes programas. Actualmente alguma das referidas séries passam em canais de cabo, em que muitos portugueses ainda não têm acesso e são quase forçados a ver o Big Brother, na sua já sexta série, presumo que nenhum outro país do mundo tenha tido tantas edições, e a completar o ramalhete a ficção nacional, que acaba por perder muito qualidade quando repetem metade do último episódio no novo que começa, transformado a trama, em algo diluído e lento, durando como no caso do Anjo Selvagem, mais de um ano. De aplausos na TVI, só os comentários de Domingo, no Jornal Nacional, de Marcelo Rebelo de Sousa.
Na Sic, vê-se programas a ter sucesso, sem o mínimo de qualidade como o caso de Malucos do Riso, que dura à imensos anos, mas do que o devido.
Atenção, não quero aqui deixar a ideia que só os canais de cabo é que são bons e que é tudo óptimo, existem programas ou canais que também não estão bem, sendo o caso mais visível a MTV Portugal, que não possui nenhum programa gravado em português e feito cá, sendo um canal praticamente igual ao que era anteriormente. Outro caso são dois programas da Sic Radical: O Homem da Conspiração, em que nem Nuno Markl tem piada, nem os textos que ele interpreta e o Curto-Circuito, que depois da saída de Rui Unas e de Fernando Alvim, perdeu totalmente a piada, possuindo actualmente um apresentador medíocre como Pedro Ribeiro.
Por hoje fico por aqui, não prometendo, mas tentando ao máximo evitar falar sobre Futebol.


PP

sexta-feira, outubro 24, 2003

O que aconteceria?

E se eu me virasse para ti e dissesse que eras a mulher da minha vida, o que fazias? Será que olhavas para mim e irias rir das minhas palavras ou me beijarias sofregamente? Será que também me dirias que me amas e que queres ser minha para sempre ou simplesmente me darias um beijo de afecto na cara, viravas-me as costas, partindo sem dizer uma palavra? Será que ainda me falarias na rua ou atravessavas para o outro passeio, afim de me evitar? Por que farias isso? Deitarias fora toda uma amizade construída? Ou não terias coragem para me desapontar e desiludir ou apenas não conseguirias exprimir os teus sentimentos por mim? Será que os teus olhos atraiçoariam as palavras que ficaram por dizer? Ou confirmariam a sua ausência? Conseguirias acordar no dia seguinte sem esboçar sequer um pensamento de tudo o que te disse? Conseguirias olhar-me nos olhos, como te miras ao espelho? Ou olhas para o espelho e sentes embaraço do que vês? Será que eu te amo e tenho uma maior consideração por ti, do que tu tens auto-estima? Tens sonhos e desejos por mim, ou não existimos como “nós”? Sentes o mesmo ritmo de paixão que eu sinto ou não tens música no coração?
Isto tudo era o que eu gostava de saber e de te perguntar. Tudo trespassa a minha mente nestes segundos, apetece-me expelir toda esta erupção de palavras, mas não. Definitivamente, não. O medo da rejeição, da perda da tua amizade é muito forte. Então fico embasbacado e especado, observando toda a tua aura dourada que emanas, enquanto esboças uma gargalhada, devido a uma piada tola que disse. Talvez amanhã seja o dia, mas hoje não.


PP
Os olhos luzidios


Ela acorda na alvorada de um novo dia, seus olhos se abrem e abraçam o amanhecer. Livre das amarras opressoras, o ébano dos seus olhos reflectem a luminescência solar que absorvem. O seu sorriso é um mar de esperança, um oceano de tranquilidade. Levanta-se, todos os minutos perdidos não podem ser recuperados e todo o dia é uma nova bênção. A evolução da vida quotidiana deu-lhe as comodidades da vida, mas é na simplicidade, que ela encontra o sentido de existir, a alegria de respirar e de se sentir. Seus olhos, outrora vazios e baços, voltaram a luzir como as estrelas no firmamento imenso.

PP
A Fotografia

Artur aponta a sua máquina digital na direcção de Eva, ela sorri, um sorriso franco, mas ao mesmo tempo, esconde a cara embaraçada. Sente-se vigiada, ali no café por todas aquelas faces conhecidas da vida mundana e tapa os olhos. Porque será que os olhos são os primeiros órgãos que se escondem quando não queremos ser fotografados? Será por serem o espelho da alma ou não queremos revelar o nosso estado de espírito? Não se quer mostrar a falta de alegria, a falta de brilho de vida, o contentamento de se estar vivo, de existir.
A felicidade é efémera e a tristeza uma constante. As palavras podem mentir, mas se exceptuarmos a boca, o corpo não mente. É demasiado honesto, especialmente os olhos. Daí provêm a reacção instintiva de tapar os olhos, a tentativa de se ocultar o que se sente. As palavras são uma máscara que se usa. Um meio de comunicação refinado pelo Homem, uma evolução que se esqueceu da linguagem instintiva do corpo.
Artur percebe que apesar da aparente felicidade que dela emana, seus olhos revelam tristeza, algo que ela tenta esconder, pois sabe que assim que a imagem ficar retida para sempre naquele pequeno visor, ele se aperceberá.
O que é uma fotografia? Uma tentativa falhada de imortalizar alguém. É um fracasso, porque uma pessoa é mais do que o que é capturado. O que se capta é um momento apenas, um milésimo de segundo que fica gravado para sempre, com um sorriso forçado e que não nos revela. A fotografia não ri, não chora, não pisca os olhos, não sente, não pensa. Numa fotografia, não somos nós que aparecemos, apenas o invólucro porque a máquina é incapaz de captar a alma de uma pessoa. E se já por si mesma é incapaz de captar a essência de uma pessoa, qual a necessidade instintiva de tapar a face rosada de embaraço?
Como foi dito, a felicidade é passageira e esta está a chegar ao fim da sua viagem. Eva sente isso e tenta adiar ao máximo. Teme que a fotografia apresse o curso normal do destino, então rejeita ser fotografada.
Artur também se apercebe que esta relação terá de terminar, embora isso não seja o seu desejo e então sorri. Ficam ambos assim. Durante longos instantes. Neste silêncio confortável. Um silêncio que ambos prezam, não existe a necessidade de palavras, que poderiam estragar este momento. Ele estende a mão e acaricia-lhe a face. Ela sorri ainda mais, fecha os olhos e desvia a cara beijando-lhe a mão.


PP
A Brusquidão

Brusquidão, s.f. (de brusco). Qualidade de quem ou do que é brusco.
Brusco, adj. Áspero, desabrido. Arrebatado nos modos, nas palavras. Nublado, escuro. Triste, sombrio. Súbito, inesperado, repentino, imprevisto, rápido.

In Machado, José Pedro (1990) – Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Ediclube, Lisboa



De cabelo ébano, solto e brilhante, olhos cor da esperança e um corpo formoso, ela dança ao som da música.
Apesar da garrafa da água que está na mão de um rapaz, próximo a ela e que a observa, a sua garganta está seca e a sua pulsação aumenta, só de a vislumbrar. É ardente o seu desejo de a conhecer, mas a sua mente procura as palavras certas para serem ditas e nenhuma lhe agradam.
O destino socorre-o e logo aparece um amigo que a conhece e trata de ir falar com ela. Poucas palavras são sussurradas ao ouvido de cada um e logo o seu coração acelera ainda mais com a iminente situação de a conhecer. Depois do cumprimento surgem uns clichés de ocasião, em que o riso dela é extremamente desagradável e os seus modos são... bruscos. Vem a desilusão, apesar de bonita, a brusquidão dos seus modos a torna repulsiva e a emoção de a conhecer é transformada em desilusão.

PP
Pensamento de um dia

Todos, temos aqueles dias em que por os mais variados motivos nos sentimos vazios, ocos, em que questionamos o hoje, o ontem, o amanhã. Em que nos perguntamos o porque daquele papel que apesar de nada nos dizer, insistimos em representar quer seja no trabalho sobre a égide da maléfica gravata ou na família, ou nos sentimentos para com os outros.

Pois bem, hoje foi um desses dias.

Nestes dias de introspecção, de revolta contra os Adamastores da Alma, rumo invariavelmente em direcção de um mar qualquer. Geralmente o Mar ora feroz ora terno, da Foz do Arelho. Ao chegar sou presenteado por Poiseidon por uma paisagem impressionista de Monet. O sol já se encontra naquele momento de entrega, de fronteira entre o dia e o anoitecer, num tom alaranjado, em que as sombras, as pedras, as rochas e os animais ganham uma deslumbre de fascínio, talvez por estar a terminar mais um ciclo da vida no planeta. Gaivotas esvoaçam aqui e acolá em círculos constantes e repetiveis, num equilíbrio instável sobre o areal na busca de um petisco ou algo. As areias encontram-se desertas. Não, não é bem assim. Ao longe deslumbro um pescador de cana bem levantada. Talvez um homem nos seus 60 e picos anos, de barba arisca , branca volumosa e cansada pelo tempo que em simbiose com os cabelos grisalhos serpenteiam o passar do tempo. Do lado oposto encontra-se um jovem casal de namorados. Ela, morena de cabelos negros escuros e porte elegante, e ele de cabelos curtos, muito curtos e de estatura especialmente alta. Ambos de mãos bem dadas caminham trocando sorrisos, olhares doces, melosos, terrivelmente apaixonados num silencio só quebrado por beijos profundos e sentidos que me fazem sorrir e a acreditar na beleza dos sentimentos humanos.

Caminhei em direcção ao mar, primeiro pelo areal que entrelaça os nossos pés da essência da natureza, e depois pela areia molhada pelo sal do mar que desperta uma frescura, uma névoa pelo corpo. Ao chegar ao mar, ao sentir de perto o tom, o cheio a essência natural e espiritual do mar, toco-lhe, devagar, suavemente. É neste momento de redescoberta do mar , do frio quente das sua aguas, do ternura das suas ondas revoltas que me acalmo suavemente. Sentei-me então no areal, olhei ternamente a sua grandiosidade, a pequenez das Berlengas aqui tão perto e lembrei-me de ti. Sim de ti __XXXX__,que apesar de renegares a minha alma e de estares bem longe, e num momento em que nada o fazia esperar, teu rosto ainda que escondido nas sombras da psicologia humana, surgiu na nos meus olhos. Neste mesmo momento sorri, e o vazio, a inconstância e túmulo que me torturava a mente passou repentinamente como se não passa-se apenas de um sonho mau.

Cheguei a casa e obviamente tive de escrever estas palavras, para saberes que contigo e em simbiose com o mar me ajudas-te hoje a redescobrir mais uma vez a alegria do viver.


ACS
As Praxes



Na actualidade existem estórias cíclicas, que ano após ano vêm marcar uma determinada estação, no Verão temos os incêndios florestais e no Outono temos as praxes.
As praxes são um assunto sempre envolto em polémico, os abusos e as humilhações dos caloiros são repetidas de ano para ano, mas a bem de uma recepção que é um elemento integrador do novo aluno, nada é feito para impedir os excessos.
Este ano, a Instituição visada foi o Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, em que pais de caloiros protestaram contra uma praxe sexual violenta, onde novos alunos foram obrigados a atar os seus pénis a cordéis e também a beber um copo de água depois de outro aluno ter lá mergulhado o seu pénis. Estas práticas são estúpidas e pessoalmente não vejo qual a sua utilidade integradora, quando se sente prazer em humilhar os nossos semelhantes, para mais em pessoas que frequentam um ensino dito superior. Nas Faculdades, entram na sua maioria alunos com 18 ou mais anos, logo o facto de eles serem pintados revela a meu ver, imaturidade por parte dos veteranos, que se divertem como crianças da primária, o que é ridículo. Quando tentam fazer praxes de diferente nível recorrem à humilhação, através de práticas que não dignificam a condição humana, a bem de uma falsa integração, pois a verdadeira integração é apenas e tão só a escolha de padrinhos e madrinhas, pessoas que os possam ajudar na transição que existe entre o Ensino Secundário e o Superior.
E o pior é que nada é feito para terminar de vez com estas características negativas da praxe, praticada por futuros médicos, engenheiros, advogados, cientistas, etc. A praxe deve existir? A resposta a meu ver é sim, mas nunca nos moldes feitos na actualidade. A entrada numa Universidade deve ser um motivo de festa e não de humilhação.


PP

quinta-feira, outubro 23, 2003

Nandrolona


A nandrolona, substância dopante que esteve na ordem do dia na época de 200/2001 volta a atacar a Itália. Desta vez, é o jogador do Inter Mohammed Kallon o visado. Depois, da referida época e com uma época tranquila de premeio, volta-se a falar da referida substância, o que obviamente não é bom, por duas razões:
1ª- Retorna da suspeição sobre o Futebol e sobre o desporto em geral;
2ª- Esta época termina com o Campeonato Europeu de Futebol, e com estes casos, pode haver um descrédito no evento por parte dos espectadores.
Se bem que estes casos devem ser devidamente punidos, não é menos verdade que as pessoas querem ver em acção os melhores dos melhores e não os melhores dos não-dopados.
Se o referido jogador, pela sua nacionalidade nunca poderia alinhar num Campeonato Europeu de Selecções, o que deixa, por ora, intacta a nata do futebol europeu, é real a possibilidade de ser o primeiro futebolista apanhado, num novo ciclo, o que se espera que não se concretize, pois é mais um descrédito ao Futebol e ao Desporto em Geral. Para mais, chegam as suspeições da imprensa sueca sobre a equipa do Sporting.
Para finalizar, a notícia de que o melhor futebolista português pós-Eusébio vai abandonar a selecção findo o Euro-2004 é uma notícia que me entristece, pois após o Europeu, visto que muitos outros futebolistas também seguirão o exemplo de Figo, ele deveria se manter na selecção, como elo de ligação entre a mística de um passado recente e as gerações ambiciosas de jovens jogadores que se estão a espalhar rapidamente por esta Europa fora.


PP

terça-feira, outubro 21, 2003

A Linha Fantasma

Num destes dias cinzentos, em que a chuva tal como a crise económica teima em aparecer, fazendo o romper da manhã mais melancólico, embarquei para uma viagem com contornos de Historia e Passado, na Linha do Oeste rumo à capital.

Na estação, naqueles minutos de espera sempre propícios à reflexão e ao observar das paisagens humanas e naturais, fui tomado pela impressão de estar num tempo que já pensava distante. É verdade todo aquele cenário anacrónico, das automotoras laranja e das carruagens cuja cor já esta parcialmente gasta pelo tempo, conjugado com a chuva miudinha e o escuro do tempo lembrava-me uma passagem de um filme dos anos sessenta.

Mas a realidade é que todo este cenário, que se mantém há décadas, não é uma representação do passado, mas sim o presente de uma Linha Ferroviária que pela força do esquecimento de responsáveis políticos e da CP, permaneceu imutável, sendo hoje mais um “Postal Turístico” do Portugal antigo e atrasado.

Enfim, lá embarquei na carruagem, sentei-me junto a uma das janelas. A Viagem, longa no tempo, vazia de passageiros (somente 8 pessoas já de idade avançada, que lá trocavam palavras sobre banalidades) e fria de conforto, lá decorreu sem pressas e com tempo para uma leitura do jornal. Por uns momentos fechei os olhos e imaginei como seria a mesma viagem, num comboio moderno, com serviços ao cliente: bar, rádio, cadeiras confortáveis, passageiros fervilhando de vida. Mas ao abrir os olhos a realidade cruel da linha do Oeste, ou melhor “Linha Fantasma” lá estava. “Mas talvez fosse melhor assim”, sempre podia contemplar a paisagem e conhecer os numerosos apiadeiros e estações que ficam no percurso (Óbidos, Dagorda, S. Mamede, Paul, Dois Portos, Pero Negro, etc.), e assim fugir a normalidade da paisagem urbana.

Ao fim de quase 2 horas de viagem – os prédios cinzentos, a construção desordenada, o fervilhar de gentes apresadas pronunciavam a chegada ao Cacém. Agora já só faltava a etapa final – o mudar de comboio. Assim foi, lá mudei de comboio e ao som dos telemóveis, das crianças que choravam, dos apertos de uma hora de ponta, a jornada se completou.

Todo este cenário desmotivador, triste, de semi-abandono retratado acima, é o resultado da inacção de sucessivas administrações da CP, de governos e ministérios, que apesar de apregoarem em tempos eleitorais a importância estratégica da Linha do Oeste enquanto Interface de ligação entre a Capital e o Centro do país, limitaram a sua acção à realização de sucessivos e intermináveis estudos.

Mas será que vale a pena apostar na Linha do Oeste? Não seria preferível simplesmente desmantelar a linha e assim cortar na Despesa Pública?

Penso que não. Senão vejamos:

O mercado de transportes de mercadorias na Linha do Oeste tem vindo a ter uma procura crescente, o que só por si já representa uma razão óbvia no apostar na Linha do Oeste e consequentemente na indústria da região. Mas, mesmo no mercado de passageiros existe uma procura potencial. Quantos Expressos, e Carreiras Rápidas existem entre Lisboa e Caldas? Inúmeros. Obviamente que todos estes clientes da rodoviária estariam dispostos a optar pelos caminhos-de-ferro, caso lhes fosse oferecido um serviço de qualidade e quantidade em termos de horários. Mas mais ainda, com o futuro Aeroporto Internacional de Lisboa, será igualmente necessário ligações entre a Ota e Lisboa. E que melhor solução do que a Linha do Oeste.

Por todos estes motivos considero que é urgente reconstruir, repensar a Linha do Oeste, pois esta não deve continuar a ser uma “Linha Fantasma”. Assim espero que os responsáveis e a própria sociedade civil, se envolvam neste processo de modernização, de modo que o Futuro desta, seja bem diferente do Presente, o qual é meramente uma imagem de um Passado que já devia estar, bem lá no fundo do Horizonte.

ACS

segunda-feira, outubro 20, 2003

Kingsley – Parte II


Hoje, depois de mais um fim de semana desgastante, ao acordar estava longe de imaginar que iria escrever alguma coisa para a minha nova alegria, o meu blog. Queria descansar um pouco, mas, como leitor assíduo do jornal “Record”, constatei com alegria um artigo de duas páginas, com o já citado por mim noutro artigo, o jogador Kingsley.
Mas, como sempre, existem pessoas que acham que devem procurar a sua parte na glória, qual não é o meu espanto, ao ver o jornalista António Tadeia citar o ex-treinador do Caldas, Francisco Barão, dizendo este que tinha ido buscar o referido jogador à 3ª Divisão, quando na referida época, em que o jogador ingressou no Caldas, esse senhor treinava o Estrela de Portalegre e o treinador que apostou em Kingsley, foi Eduardo Silva, actual técnico do Beneditense.
Francisco Barão, foi um técnico incapaz de criar empatia com os sócios e simpatizantes do Caldas Sport Clube, especialmente pela sua atitude cobarde no banco de suplentes, onde só se manifestava a plenos pulmões quando a equipa adquiria vantagem no marcador, pois de resto estava calado e se a equipa começava a perder em casa, logo se sentava.
Como sócio do Caldas, não me agradou a saída do treinador Eduardo Silva e a sua substituição por um amigo pessoal da Presidente Fernanda Teles e um episódio passado depois de um jogo no Campo da Mata, a poucos passos de mim, criaram-me uma imagem do Senhor Francisco Barão, de uma pessoa demasiado arrogante para as suas capacidades reais. A maneira como abandonou o Caldas Sport Clube, também demonstra bem a sua falta de carácter e pelos vistos a palavra mentiroso (a ser verdade que essas palavras escritas foram por si ditas), é uma palavra do seu dicionário.
Para terminar, refiro que vi ontem a reportagem da Sic Notícias ao jogador Kingsley, que continua igual a si mesmo. Que exemplos destes, dado por pessoas de responsabilidade no meio futebolístico, nunca sejam seguidas por ele, e que Kingsley mantenha a sua alegria dentro de campo.
JUIZ MASTURBADOR

Na edição de ontem do diário Correio da Manhã, encontra-se uma notícia no mínimo insólita, o caso de um juiz francês, que nas próprias palavras do autor do artigo “(...) masturbou-se em plena audiência, aparentemente incapaz de conter-se perante o encanto de uma advogada que apresentava os seus argumentos.”
Com a típica mania portuguesa de imitar os costumes que vêm de fora, não é de espantar que em breve, os advogados portugueses comecem a ter a concorrência de mulheres como Isabel Figueiras, Sofia Aparício, Raquel Loureiro ou Luísa Beirão, que serão contratadas para apresentar os seus “argumentos” aos juizes portugueses.
Voltando atrás e num tom mais sério, este caso passa-se com um juiz de 39 anos, que já tem um registo clínico de distúrbios psíquicos que datam de 1994, tendo estado durante os últimos 9 anos várias vezes de baixa, devido à sua condição mental e que inexplicavelmente continua a exercer as suas funções, decidindo casos sem que tenha a devida estabilidade psíquica.

sábado, outubro 18, 2003

Kingsley


Neste momento, na exageradamente denominada SuperLiga de Futebol, existe um nigeriano que esta a surpreender o panorama futebolístico nacional. Trata-se do jovem jogador, Kingsley, que actua na equipa do Beira-Mar, e que foi contratado à poucos meses atrás ao clube da minha terra, o Caldas Sport Clube.
O jogador, carinhosamente baptizado de “Cissé” pelas pessoas de Caldas é, com alguma surpresa o primeiro classificado do prémio, “O melhor de Record”, à frente de tantas vedetas consagradas. Surpresa para a generalidade, mas não para os adeptos e simpatizante do Caldas Sport Clube, que gostavam e acarinhavam este jovem, quando aqui actuava.
Obviamente que a sua presença no onze titular do Beira-Mar contribui para um acréscimo de qualidade no jogo da referida equipa, mas não lhe podemos atribuir o mérito absoluto, pois uma equipa não se faz apenas de um jogador e o Beira-Mar conta com outros excelentes executantes como Juninho Petrolina, que finalmente se revela na sua plenitude de pois de um par de épocas tapado por Ricardo Sousa, entretanto transferido para o Boavista, ou o holandês Wijnhard. Uma palavra especial também deve ser dirigida ao treinador, António Sousa, um homem que se mantém há imensas épocas em Aveiro, escapando incólume às famosas chicotadas psicológicas.
Mas voltando ao Kingsley, um jogador que ainda faz sonhar os (poucos) adeptos que ainda se arrastam pelos campos secundários do País, em entrevista efectuada à TVI, demonstra continuar a ser uma pessoa humilde e disposta a evoluir ainda mais. Desejo-lhe assim os maiores sucessos e que ele tenha uma estreia muito positiva, contra um dos denominados Três Grandes, pois nestes jogos e com as suas exibições é que se pode sonhar de duas maneiras: o próprio jogador, de que um dia poderá jogar ao mais alto nível, e o adeptos com as suas jogadas plenas de técnica de alto gabarito.

quarta-feira, outubro 15, 2003

Sobre a recente eleição do Governador Arnold




Apesar de não ir à terra que me viu nascer há já quase catorze anos e sentindo-me para já um genuíno português, é difícil não esquecer as “roots”, seja por que razões forem. Os portugueses por natureza são pessimistas, têm a mania da perseguição, o seu fado fatalista e acontecem-lhes as coisas mais absurdas, dignas do Terceiro Mundo, mas então o que dizer dos Estados Unidos da América, país que tem o maior Produto Interno Bruto do Mundo inteiro e são vítimas do ridículo?
A última grande ocasião deu-se com a eleição do (ex?) actor Arnold Schwarzenegger, como o novo governador do Estado da Califórnia, apenas o maior estado americano, com uma território semelhante ao da Espanha e neste momento com um défice das contas públicas astronómico.
Mas o problema em si, não é a pessoa que ganhou a eleição, mas sim todo o procedimento que aconteceu. Se perguntarem a alguém, o que têm em comum uma ex-actriz pornográfica, um pornógrafo, um actor de sucesso e um anão pensem bem na resposta, pois não é o maior espectáculo do Mundo, embora por uns tempos esta eleição dominou a realidade americana.
Que a auto-proclamada “Maior Democracia do Mundo”, tem leis estranhas, já todas as pessoas o sabiam, ou se não sabiam tomaram conhecimento com as recentes eleições presidenciais em que um Presidente foi eleito, tendo no cômputo geral menos votos, do que o seu opositor, agora que se transforme essas mesmas leis no ridículo que foram estas eleições para o Estado da Califórnia é muito diferente. A estória destas começa com um congressista republicano que devido à sua fortuna e descontentamento com o governador eleito, procura recolher as assinaturas de, pelo menos 12% dos eleitores votantes na última eleição, número esse que foi largamente ultrapassado. Tendo então direito ao chamado recall, esse senhor assumiu-se como candidato a novo governador da Califórnia, para se tornar apenas mais um entre um número significativo de candidatos, mais de meio milhar. E porquê este número absurdo de candidatos? Porque a lei é simples, todos os residentes da Califórnia que reunam 65 (?!) assinaturas e 3500 dólares (aproximadamente o mesmo em euros) pode ser um potencial candidato. Mesmo após uma triagem inicial, restaram os 135 candidatos oficiais que foram no passado dia 7 de Outubro às urnas. Nenhum destes 135 candidatos era o congressista que gastou da sua fortuna para permitir que isso se tornasse realidade, pois o Partido Republicano anunciou Arnold Schwarzenegger como o seu candidato.
Mas as leis americanas ainda ganham novos contornos, pois os dois principais candidatos não estão inseridos num mesmo boletim de voto, pois as eleições fazem jus ao seu nome e são mesmo eleições (que confusão!), pois os eleitores tiveram direito a dois boletins de votos. O primeiro boletim era para saber se a população achava que o governador deveria ou não ser destituído, o segundo era para saber que candidato deveria ser eleito, assim Gray Davis teve menos dos 50% dos votos necessários para a sua continuidade e Arnold pode seguir no trilho de Ronald Reagan, se a esperada 28ª Emenda da Constituição for aprovada e possibilite a candidatura à Casa Branca, dos naturalizados americanos, com um tempo mínimo de vinte anos de passaporte americano.
Depois desta complicação, pode ser muito fácil dizer, é maravilhoso viver em Portugal.
- E se -



E se,
O mar deixasse de ser mar,
O céu deixasse de ser céu
Tu deixasses de ser tu,
O que seria de mim?

E se,
As estrelas deixassem de ser estrelas,
A Lua se afastasse,
O meu sono findasse,
O que seria de mim?

E se,
Perdesses o sal da vida,
Ficando torpe e envelhecida,
O que seria de mim?

E se,
Eu deixasse de sonhar,
Já nem com o teu olhar,
Se deixasse de sorrir,
Tudo me pudesse inibir,
O que seria de mim?

O vento aqui não canta,
Já nada me encanta,
O que foi feito de mim?

Histórias da Cidade Termal

Sempre que passo pela Rua da Liberdade ou pela Rua de Camões nos afazeres próprios da vida agitada de hoje, são poucas as vezes que não encontro D. Teresa. D. Teresa uma setuagenária, de estatura média, forte, de longos cabelos negros esbranquiçados aqui e acolá, pelas fatalidades do destino, olhos negros profundos, bonitos e dona de um sorriso afável, gostoso, cumprimenta-me sempre efusivamente. No entanto de há dois anos para cá, uma certa nebulosidade crescente no olhar, cada vez mais nostálgico, conjugado com palavras mais amargas, vem envelhecendo de um modo exponencial aquela alma de mulher doce e antes lutadora. E tudo isto, após ter trespassado a sua loja de cerâmica e produtos tradicionais.

D. Teresa originária de uma família de parcos recursos, ligada desde sempre à cerâmica, depressa largou a escola, por troca com os saberes da oficina cerâmica do pai. Ainda traquina aprendeu a brincar com o barro, a dar vida ao barro, através da idealização de figuras, pratos, canecas.

Aos 24 anos na sequência de uma paixão “suave, tranquila mas arrebatadora”, como ela diz, casou com um jovem do Couto, também ele ligado a estas coisas do barro. Juntos no amor e na arte da cerâmica, abriram uma loja de produtos cerâmicos na Zona Histórica de Caldas da Rainha.

Dessa Loja criaram 4 filhos, diversas amizades, mas mais importante do que isso, preservaram tradições, lutaram mesmo sem saber, pela cultura das Caldas da Rainha, com um sorriso nos lábios. Sempre que chegavam os turistas em grandes camionetas de excursão ou magotes de aquistas que após os banhos nas águas sulfurosas do hospital, procuram nas lojas algum presente ou recordação, para levarem um bocadinho das Caldas aos seus familiares; D. Teresa recebia-os com uma alegria contagiante, uma gargalhada sempre efusiva, uma espontaneidade de gestos e palavras que levavam os turistas, forasteiros, a comprar quase sempre mais do que tinham planeado.

Mas na vida é muitas vezes assolada por tempestades, muitas vezes madrastras. Efectivamente com o encerramento do Hospital Termal tudo se alterou. No Inicio D. Teresa dizia brincando – “agora é que eu vou fazer umas férias no verão”; mas com o desenrolar dos dias, dos meses, as férias foram-se tornando intermináveis. Os turistas, os aquistas, tornaram-se cada vez mais uma lembrança distante, e o sorriso da D. Teresa foi-se fechando. E todo este cenário, provocado por uma bactéria que apesar de microscópica era de facto gigante. Sim, gigante de tal modo que colocou em cheque o modus vivendi de uma comunidade.

Aos poucos e poucos, muitos não resistiram ao novo ovo de Colombo – os “Franchasings”. D. Teresa foi resistindo, mas o relembrar cada vez mais insistente de netos e filhos, das vantagens de uma reforma já merecida levou-a a claudicar. Fez um bom negócio, mas com diz o povo “Dinheiro não é Felicidade”, e dai em diante o olhar de D. Teresa nunca mais foi o mesmo. Um vazio, uma mágoa, por ter perdido parte de si mesma, passou a percorrer a sua alma e a estar patente no seu Rosto.

Hoje quando a vejo na janela da sua casa, sinto pena por aquela mulher já ser apenas uma sombra daquilo que foi.

Toda esta história é uma simples ficção, mas uma ficção que tem muito de verdade. A crise termal instalou na cidade uma ferida latente, que varreu o comércio, tradições e vidas simples de pessoas como a D. Teresa. Basta vermos quantas lojas de cerâmica ainda perduram na Rua da Liberdade. E tudo isto quando se fala de uma candidatura de Caldas da Rainha a Património Mundial. É bom que os nossos responsáveis não esqueçam que património não é apenas as pedras, as fachadas dos edifícios por mais belos que sejam, mas igualmente as tradições, a cerâmica e claro as pessoas. Que melhor património existe, que as pessoas? E Caldas tem sido sempre bafejado pela sorte, com uma matéria humana de grande qualidade.

Bem-vindos

Num Mundo mordaz onde pensar é quase um crime, somos geneticamente compelidos a conquistar a prisão perpetua. Como Prisioneiros deste destino temos:

António Cipriano Silva, 25 anos, Licenciado em Gestão, profissional de uma corretora nacional. Nos tempos livres gosta de bom cinema, de livros interessantes, de conversar e de torcer pelo seu Sporting

Paulo Pinheiro, 25 anos, licenciado em Motricidade Humana. De momento desempregado e sem namorada (pois só assim é que fiquei com tempo para criar este blog) e adepto confesso do Benfica. Amo a noite.