Ao som de “Shine on your Crazy Diamond” dos Pink Floyd, Arthur tentava acalmar. Não é fácil ser traído, após variadas juras de fidelidade. Palavras vazias, ocas, de sentido oposto, tinham sucessivamente sido proferidas. Arthur acreditara nas palavras. Construíra sua vida com base nessas palavras. Agora tudo ruíra. Os laços foram quebrados. O futuro de promissor e luzidio, foi superado por uma sombra de desilusão e incerteza.
Quando se fala em traição, invariavelmente ocorre ao pensamento, os relacionamentos humanos, como o amor, ou a amizade. Não deixando de partir duma relação humana, esta traição não se encaixa nesses moldes. Arthur era uma das duas mil vítimas da traição da Opel da Azambuja. Tinha como em muitas famílias assumido compromissos, com casa, carro, educação. De um momento para o outro estava desempregado. Deixava de ser útil à sociedade. Futuro? Na Azambuja a Opel era um oásis que alimentava toda a economia. Com o seu fim, toda a estrutura económica desabava num deserto completo. Tudo isto por via de um tal de capitalismo de empresas globalizadas, sem ética ou sentimentos. Agora Arthur não sabia o que fazer. Imigrar talvez fosse o "Breaking The Wall".
António Cipriano