Obama, 1 – 0
Kick-off das primárias das presidenciais norte-americanas, um longo e tortuoso processo, perfeitamente incompreensível à luz da vivência democrática europeia.
O estado de Iowa é um estado que elege pouquíssimos delegados nas presidenciais propriamente ditas. Por essa razão, os candidatos presidenciais nem costumam visitar o estado durante a campanha. Situação completamente diferente durante as primárias. Nessas primárias, Iowa continua a eleger um número negligenciável de delegados, mas a diferença é que é o primeiro estado a ter eleições (ou melhor, não são eleições, são “caucuses”, uma perfeita aberração eleitoral, principalmente do lado do Partido Democrata; mas adiante, adiante). Como é o primeiro estado isolado a ter este processo, o que é que isso pode significar? (e geralmente significa)
Candidatos com diminuta expressão eleitoral nas sondagens podem apostar neste estado (dinheiro, tempo, equipa, etc) e, se ganharem, podem beneficiar de um efeito de bola de neve (caso do John Kerry em 2004, que antes de Iowa e New Hampshire estava em 4º lugar nas sondagens nacionais – do lado Democrata). Por outro lado, candidatos muito bem colocados, à partida, se perderem Iowa podem ver-se fora da corrida (recorrendo novamente a 2004, foi o que aconteceu ao Howard Dean). Ainda é cedo? Sim, é. Antes da “Super Tuesday” é prematuro apostar decisivamente num determinado candidato.
Mas duas coisas podemos retirar do que aconteceu ontem:
- Do lado democrata há 3 candidatos com aspirações reais à nomeação: Barack Obama, Hillary Clinton e John Edwards. O 3º lugar da sra. Hillary não augura boas coisas, até porque Obama ganhou destacado e com facilidade. Prognóstico: se Obama ganhar daqui a 4 dias em New Hampshire (aí já são eleições «normais», não “caucuses”), os candidatos democratas não chamados “Edwards” ou “Clinton” começam a desistir a favor de Obama e a coisa fica composta para o senador de Illinois. Muito claramente: o Obama neste momento tornou-se um caso muito sério, não só em relação à nomeação, mas em relação à candidatura à presidência propriamente dita. Pormenor: Obama ganhou folgado num estado cuja esmagadora maioria da população é caucasiana;
- Do lado do GOP (Republicanos), a situação é mais delicada. Romney e Huckabee foram os grandes apostadores em Iowa (Romney ganhou o Iowa straw poll, uma coisa perfeitamente ridícula e arcaica), e o evangelista acabou por ganhar. Huckabee é conhecido por 2 coisas: ter perdido muito peso em pouco tempo (era obeso) e ter o apoio em peso da comunidade evangelista (pronto pronto, e em ter o apoio "precioso" do Chuck Norris). Os candidatos mais “sérios” do lado do elefante tiveram resultados modestos (John McCain, Fred Thompson, Rudy Giuliani; este último, principalmente, teve um resultado que roça o absurdo). Estes 3 continuam a ser os candidatos mais prováveis ou Huckabee acabou de se colocar em boa situação para disputar a nomeação com 2 desses 3? Difícil de ler, mas parece-me que o milionário Romney e Giuliani acabaram de ficar em péssima situação. Por cada dólar que Huckabee investiu em Iowa, Romney investiu 10.
Anotação: a "spokesperson" da campanha de Obama é a Oprah. Parece-me um bocado forçado que, como resposta, a senadora Clinton tenha ido buscar como porta-voz da sua campanha (para além da omnipresença de Bill Clinton) o Magic Johnson (para além de que se deve estar a roer pelo facto de Hollywood em peso estar a apoiar Barack Hussein Obama).
E venha New Hampshire.
(acabei de dar seca?)
João Pedro