terça-feira, junho 28, 2016

Reflexão


Nos últimos anos, relativamente à educação, a União Europeia tem orientado a sua posição num sentido muito específico em que dá um papel primordial à educação científica. A educação científica é importante, penso que relativamente a este princípio todos estão de acordo. É através do conhecimento científico que a sociedade avança, é através do saber científico que a tecnologia evolui e é através da compreensão científica que leva a que a medicina avance o que aumenta tanto a esperança média de vida como a qualidade de vida. É também no campo científico, neste mundo cada vez mais tecnológico, que os nossos jovens encontram as maiores oportunidades de emprego, quer no campo da saúde até à área das engenharias, com a informática em papel de destaque.
No entanto todo este enfase nas ciências esconde um erro gravíssimo, pois todo o destaque que se dá às ciências parte de um terrível desequilíbrio. A União Europeia tão preocupada com as ciências “duras”, segundo António Manuel Hespanha, mostrou-se extremamente negligente com o conhecimento das humanidades, atirando-as imprudentemente mas intencionalmente para a categoria de improdutividades dizendo que nada contribuem para o enriquecimento da União.
Hoje a U.E. debate-se com os resultados do caminho que tem vindo a traçar, se está na proa a nível científico e tecnológico, está também no ponto mais arcaico possível relativamente às questões humanas. A população europeia está a sofrer de um incrível crise de valores humanos fruto da falta de conhecimentos de História, de Filosofia e de letras no geral.
Claro que esta falta de interesse no valor das humanidades não é inocente porque é confortável para as lideranças governarem sem serem questionadas e uma das características das humanidades é questionar para perceber e exigir dos seus líderes que governem para o bem comum e não para o seu próprio bem, que façam política em prol dos cidadão e não em prol do próprio interesse.
O recente referendo no Reino Unido é o exemplo mais recente das consequências desta crise, no dia seguinte à votação, quando questionada uma jovem disse “que já estava arrependida de ter votado para sair”, o que demonstra que esta jovem votou de ânimo leve em algo que ela desconhecia, curiosamente dois ou três dias depois do referendo a Google anunciou que a pergunta mais frequente feita pelos britânicos terá sido “o que é a União Europeia?”, o que leva à simples conclusão de que grande parte dos votos foram votos de ignorância e de entendimento primário dos “cânticos de sereia anti emigrantes” que mais não são do que gritos xenófobos antigos que a História demonstra e ensina o perigo que representam.
A União Europeia está seriamente em risco, mas com o fim da União Europeia devido à imprudência e desequilíbrio entre o lucro e o humano resultado da tremenda falta de qualidade e um claro deficit democrático dos seus líderes, fica também em risco a paz e não só na Europa como também no resto do mundo.

António Manuel Guimarães

sábado, junho 25, 2016

Brexit

Os ingleses tinham o melhor dos dois mundos, conseguiram desde sempre estar fora do Espaço Schengen, ficaram de fora do Euro, ou seja, sempre com moeda própria, mas tinham direito ao comércio livre. Hoje saíram do melhor dos dois mundos para o seu mundinho.
A U.E sofre? Certamente! Não sai uma economia como a inglesa sem fazer mossa. Além de que se espera o efeito de contágio, a extrema-direita e os ultra-nacionalistas encontraram no Brexit a melhor noticia que podiam ter. E claro a incerteza é a pior coisa para os investidores, espera-se dias de contenção.
Portugal sofre? Certamente! Portugal é um país periférico e exposto e os mercados fogem para a segurança. E não podemos esquecer que a Inglaterra é o quarto destino das nossas exportações e temos certamente que negociar, o que não será fácil.
A Inglaterra vai sofrer? Vai! Para já perde o mercado com a U.E. que era só o seu principal destino da sua exportação. Fica de fora do Tratado Transatlântico que é o tratado comercial entre a Europa e os Estados Unidos que será assinado este ano. Este tratado pode não ser a melhor coisa do mundo, mas uma economia exportadora como a Inglesa perde muito ficando de fora. Está também um acordo a ser negociado entre a China e a U.E e mais uma vez a Inglaterra fica de fora de um acordo que iria favorecer a indústria inglesa. A indústria inglesa estava unilateralmente contra o Brexit, porque sabem que não tendo para quem vender os seus produtos a produção baixa, baixando a produção aumenta seguramente o desemprego…enfim.
E por fim terá problemas muito graves internamente. Porque agora os independentistas escoceses podem muito bem e vão começar a dizer que não foram tidos nem achados nesta saída e que eles não querem ficar de fora da U.E. Ou seja, fazem o inverso da ameaça que lhes fizeram em 2014 aquando do referendo para sair do Reino Unido, porque era dito que se a Escócia saísse do Reino Unido, ficaria fora do U.E. e que dificilmente entraria, até porque a Inglaterra vetaria a sua entrada. Hoje a primeira ministro da Escócia já admitiu um novo referendo.
A Inglaterra já está a sofrer? Já, economias desta dimensão dependem muito dos mercados e o mercado já castiga duramente a Inglaterra, a desvalorização da Libra face ao Dólar só esta noite passou para níveis dos anos 80.
A Inglaterra caiu no erro de pensar que se era forte antes da C.E.E. (que não era, vivia em crise) vai continuar forte após a saída, pois bem os ingleses mais novos não conheceram a queda no pós-guerra quando o império britânico se desfez e aos mais distraídos deve ser explicado que o império britânico já não existe e economia de mercado sem mercados não funciona.
Cameron usou o referendo para fazer pressão, andou anos a fazer pressão, negociou e conseguiu o que queria da U.E. mas o seu “monstro” estava em marcha e esse ele já não conseguia controlar. Fez um “all-in” e perdeu tudo, lixou-se, já se demitiu.

António Manuel Guimarães