Nos últimos anos, relativamente à
educação, a União Europeia tem orientado a sua posição num sentido muito
específico em que dá um papel primordial à educação científica. A educação
científica é importante, penso que relativamente a este princípio todos estão
de acordo. É através do conhecimento científico que a sociedade avança, é
através do saber científico que a tecnologia evolui e é através da compreensão
científica que leva a que a medicina avance o que aumenta tanto a esperança
média de vida como a qualidade de vida. É também no campo científico, neste
mundo cada vez mais tecnológico, que os nossos jovens encontram as maiores
oportunidades de emprego, quer no campo da saúde até à área das engenharias,
com a informática em papel de destaque.
No entanto todo este enfase nas
ciências esconde um erro gravíssimo, pois todo o destaque que se dá às ciências
parte de um terrível desequilíbrio. A União Europeia tão preocupada com as
ciências “duras”, segundo António Manuel Hespanha, mostrou-se extremamente
negligente com o conhecimento das humanidades, atirando-as imprudentemente mas
intencionalmente para a categoria de improdutividades dizendo que nada contribuem para
o enriquecimento da União.
Hoje a U.E. debate-se com os
resultados do caminho que tem vindo a traçar, se está na proa a nível
científico e tecnológico, está também no ponto mais arcaico possível
relativamente às questões humanas. A população europeia está a sofrer de um
incrível crise de valores humanos fruto da falta de conhecimentos de História,
de Filosofia e de letras no geral.
Claro que esta falta de interesse
no valor das humanidades não é inocente porque é confortável para as lideranças
governarem sem serem questionadas e uma das características das humanidades é
questionar para perceber e exigir dos seus líderes que governem para o bem comum
e não para o seu próprio bem, que façam política em prol dos cidadão e não em
prol do próprio interesse.
O recente referendo no Reino
Unido é o exemplo mais recente das consequências desta crise, no dia seguinte à
votação, quando questionada uma jovem disse “que já estava arrependida de
ter votado para sair”, o que demonstra que esta jovem votou de ânimo leve em
algo que ela desconhecia, curiosamente dois ou três dias depois do referendo a
Google anunciou que a pergunta mais frequente feita pelos
britânicos terá sido “o que é a União Europeia?”, o que leva à simples
conclusão de que grande parte dos votos foram votos de ignorância e de
entendimento primário dos “cânticos de sereia anti emigrantes” que mais não são
do que gritos xenófobos antigos que a História demonstra e ensina o perigo que
representam.
A União Europeia está seriamente
em risco, mas com o fim da União Europeia devido à imprudência e desequilíbrio
entre o lucro e o humano resultado da tremenda falta de qualidade e um claro deficit democrático dos seus líderes,
fica também em risco a paz e não só na Europa como também no resto do mundo.
António Manuel Guimarães