Populismos
Hoje,
domingo dia 4 de Dezembro de 2016, assistimos a mais duas votações em países da
U.E. em que se prevê que os populismos saiam mais uma vez vencedores.
Mas
gostando ou não dos resultados temos que entender que, para além de serem
resultados de escolhas democráticas, são também consequências de problemas
graves dentro da União Europeia como um todo e dentro dos vários estados
membros em particular.
Podemos
apontar estes resultados como uma consequência da crescente falta de cultura e
de interesse dos cidadãos, um desconhecimento das ciências humanas e claro
está, da História, tão desvalorizada pelos interesses ultra-neoliberais. É
evidente que esta é uma realidade, mas esta não é a única explicação para o
surgimento destes partidos “populistas” que nada mais nos trazem que não seja o
extremismo quer de esquerda quer de direita, a xenofobia e o autoritarismo.
Existe um problema muito mais gritante e que é de muito mais difícil resolução
e que poderá, como consequência, ditar o fim da União Europeia. Esse gritante e
inquietante problema é a falta de qualidade dos políticos do mundo democrático
de hoje. Hoje o político de sucesso não é aquele que tem mais qualidades
humanas, qualidades de gestão, inteligente, prático, trabalhador e que pensa no
bem comum assumindo a política pela política. Observando os políticos do mundo
democrático actual, podemos constatar que o político de sucesso é geralmente o
“fuinha”, aquele que subiu porque soube aproveitar as clientelas politicas, que
nunca trabalhou na vida, que usou a mentira, a desonestidade, a demagogia com
muita lábia e vários meios pouco éticos para atingir o topo. Chegando ao topo a
prática de “sucesso” mantém-se e escolhe para junto de si, não os mais
competentes, mas quem se mostrou “leal”, ou a quem “deve” favores e age muitas
vezes de forma pouco clara, pensando que os cidadãos não se interessam e não
podem fazer nada a não ser votar nas próximas eleições. E para piorar tudo isto,
este “político de sucesso” surge de todos os quadrantes, o que torna a antiga e
salutar alternância como algo inútil, pois mudam os decisores mas tudo continua
igual. Essa alternância que era costume, levava o centro esquerda a governar e
a certa altura mudava o ciclo e vinha o centro direita e assim por diante, era
e ainda é assim em Portugal, como era na maior parte dos países democráticos e
por conseguinte era assim também na U.E. Mas com a emergência dos políticos
“fuinha” as políticas da U.E. tornaram-se cada vez mais centrada nos interesses
próprios dos políticos e dos seus “patrocinadores” e cada vez menos interessadas
nos problemas e condições de vida dos cidadãos, na cooperação e paz europeia.
Governam agindo em princípios básicos passando ou por um facilitismo absurdo de
“torneiras de dinheiro abertas” ou por austeridades absurdas para pagar a
“avaria da torneira anterior”, no entanto sempre prejudicando os mesmos e
beneficiando também os de sempre.
Estes
políticos pensavam que estavam protegidos por esta alternância e pelo
sentimento de inevitabilidade da manutenção do sistema, agitando sempre a
bandeira do caos quando falavam das alternativas. Só que no alto das suas
“torres de marfim” foram ignorando os sinais de alerta que primeiro começou com
a crescente abstenção nas eleições, que já espelhava o descontentamento, e mais
tarde foram aparecendo mais sinais fugazes e distantes, normalmente associados
a povos vítimas de austeridade para lá de brutal ou a povos que se deslocavam
em busca da paz que faltava na sua terra natal, e que paulatinamente foi
crescendo, e de repente, quando se deram conta estava a Inglaterra a sair da
União Europeia, a França com uma “colaboracionista nazi”, embora com mais de 70
anos de atraso, prestes a disputar as eleições presidências, uma Hungria que já
é uma ditadura, a Itália que tem um comediante como líder do movimento cinco
estrelas, partido de extrema-esquerda e anti União Europeia que tem sólidas razões
para acreditar que pode chegar ao poder, ou na Holanda que tem o Partido da
Liberdade que pretende eleger outros colaboracionista que nasceu no tempo
errado a crescer nas intenções de voto. Sem esquecer os casos extra União
Europeia como Donald Trump nos Estados Unidos que foi eleito contra todas as
previsões e bom senso.
Assim
e analisando tudo isto podemos chegar à seguinte conclusão, as pessoas estão
fartas, fartas de serem sempre os mesmos a pagar, fartas de ver os políticos
cada vez menos competentes e cada vez mais concentrados no seu umbigo do que no
bem comum, fartas dos escândalos e casos obscuros que envolvem políticos,
fartas do ambiente de amiguismo que é regra geral incompetente e funciona em
detrimento da qualidade e competência, fartas também da impunidade dos
políticos que prejudicam os seus cidadãos, quer por incompetência quer para
defender alguns poderes e interesses privados. E por estarem fartas procuram
alternativas, mudar o “Statu Quo”,
escolhendo aqueles que são considerados como o “caos” e para tentar mudar algo,
até porque pensam que se os maus políticos consideram as alternativas como
“caos” se calhar o “caos” não é tão mau e pode ser isso que faz falta. E
enquanto a decência não voltar a estar presente na política continuaremos a ter
esta turbulência e a possibilidade do regresso de um passado longínquo que nada
traz de bom. Assim penso ser óbvio que mais do que a existência de partidos não
democráticos a tentar alcançar o poder democraticamente, será a incompetência e
falta de inteligência dos nossos políticos “democráticos”, o obscurantismo das
suas práticas e as escolhas para agradar a quem lhes interessa em detrimento de
escolhas corretas para a sociedade, aliada à ordem politica de desconsiderar as
humanidades com esperança de criar massas acríticas, é claramente e efectivamente o maior perigo para a Democracia e a Paz no Mundo.
P.S.
Quando acabei de escrever fiquei a saber uma boa noticia, a extrema-direita
saiu derrotada na Áustria, mas os 46% que se prevê que obtenha não me deixa descansado.
António Manuel Guimarães