Quando foram colocados os
primeiros vidrões nas ruas das Caldas da Rainha no final dos anos 80 começou a
prática da minha família relativamente à reciclagem. Ao longo dos tempos foram
crescendo as possibilidades de reciclar outros materiais para além do vidro e
cedo em minha casa passou a existir um saco para o lixo indiferenciado e outro
para os materiais recicláveis.
No entanto a determinada altura
deu na televisão uma peça sobre a importância da reciclagem e como alguns
países agem para fomentar a reciclagem. O que mais me impressionou foram os países
que decidiram “recompensar” os seus cidadãos por fazerem reciclagem. A
recompensa mais comum é a que o ponto de reciclagem dá ao cidadão vales de
desconto que podem ser descontados num supermercado ou no abastecimento de
gasolina, estes vales são de acordo com o peso e material colocado no ecoponto.
Assim o cidadão faz a reciclagem,
separando o lixo em casa e colocando nos locais certos e recebe uma parte dos
lucros que a reciclagem dá às empresas que reciclam os produtos. E esta entrega
de uma parte, embora simbólica, dos lucros é muito justa porque quando um
cidadão separa e coloca o seu lixo reciclável no ecoponto está em última
análise a dar o seu trabalho, porque a separação e transporte não se faz
sozinha e por fim quando o coloca no ecoponto está a oferecer a “matéria-prima”
que será transformada e que dará lucro à empresa de reciclagem que depois de
transformar revende às empresas de produção.
Em Portugal falou-se nisto na
referida peça jornalística e pronto nunca mais se falou no caso, mas embora eu
continue e sem nenhuma intenção de deixar de o fazer e longe de mim fazer
campanha contra a reciclagem, não consigo deixar de pensar que alguém em
Portugal se anda a aproveitar da “boa vontade” e dessa atuação de boa
cidadania, para lucrar de forma brutal e sem a mínima intenção de distribuir,
nem sequer de forma simbólica, os ganhos com a reciclagem.
Claro que não devemos colocar de
parte a responsabilidade do poder político, porque cabe ao poder politico fomentar
e criar as estruturas que permitam melhorar o ambiente e recompensar os cidadãos
que contribuem. E com este ato penso que o governo veria aumentar o número de
toneladas de material reciclado, aliás os países que pagam aos seus cidadãos
são aqueles que reciclam mais toneladas e esse aumento aconteceu desde que esse
pagamento começou. Mas quanto ao poder político seria interessante fazer duas
análises, primeiro analisar os lucros e segundo ver quem são os beneficiários e
eventuais interesses desses lucros e talvez, assim, fosse possível perceber
porque é que o poder politico nada faz e não se mostra interessado em passar a fazer.
António Manuel Guimarães