quarta-feira, junho 20, 2018

Direitos Humanos

Relativamente à saída dos Estados Unidos da América da Comissão dos direitos humanos das Nações Unidas apenas me apraz dizer uma coisa, - só é triste eles saírem pelo próprio pé, porque um país que maltrata as crianças como eles estão a maltratar os filhos dos emigrantes devia ter sido expulso da comissão pelas próprias Nações Unidas!

António Manuel Guimarães

domingo, junho 17, 2018


A noticia falsa que matou um banco.


Domingo, treze de Dezembro de 2015, 23 horas nos Açores, estou a ver TVI Noticias e fico surpreendido com uma péssima noticia, o BANIF vai falir já na segunda-feira. Já há vários anos que o BANIF estava em dificuldades, de tal forma que o estado português havia tomado a iniciativa de auxiliar o banco, tornando-se assim no principal accionista do banco e escolhendo um administrador para a gestão do BANIF. E talvez devido a essa intervenção estatal a noticia criou em mim um misto de espanto, choque e preocupação. A noticia foi dada inicialmente com uma nota de última hora e passados poucos minutos já todos os canais de noticias apenas falavam sobre este tema. Os “peritos” estavam em prontidão, discutia-se o assunto e a TVI particularmente como a “origem” da noticia ia revelando novos factos.
Na manhã de segunda-feira dia catorze aconteceu o expectável, filas intermináveis de pessoas que procuravam rever os seus depósitos antes da falência anunciada pela TVI. Ainda durante a manhã quer o Governo, quer o Banco de Portugal fizeram saber que a noticia não tinha fundamento e que não estava prevista nem a falência, nem tão pouco a resolução do banco, mas já era tarde. No dia quinze, ou seja, dois dias após a noticia, a TVI foi obrigada a publicar o seguinte esclarecimento: “A TVI envia desculpas aos seus espectadores, mas também aos acionistas, trabalhadores e clientes do Banif, pela difusão de um conjunto de informações que, embora cabalmente esclarecidas no jornal ‘25ª hora¹, emitido à meia-noite, poderão ter induzido conclusões erradas e precipitadas sobre os destinos daquela instituição financeira”.
Tal foi o medo das pessoas que só durante aquela manhã de dia catorze o BANIF tinha perdido vários milhões e até sexta-feira dia dezoito, perdeu mesmo 960 milhões de euros de depósitos. Claro está que perdendo tal valor e perante este descalabro, o governo não encontrou outra solução que não fosse a resolução do BANIF. No fim das contas, o governo perdeu todos os milhões que tinha investido no BANIF, os accionistas perderam tudo que investiram no banco, os obrigacionistas perderam o seu investimento, alguns passaram graves dificuldades por isto, várias centenas de funcionários viram o seu emprego a desaparecer numa semana. No fim e para não perder a face, o governo decidiu pagar a outro banco o Santander para ficar com o BANIF, perdendo só com esta acção 2.100 milhões de euros.
E aqui está o resultado de uma noticia falsa, que não tinha fundamentos reais, que lesou milhares de pessoas e o Estado Português directamente e, por conseguinte, todos os portugueses indirectamente, ou seja, quando uma noticia tem outros fundamentos que não informar tem este efeito pernicioso.
Claro que existem em Portugal entidades como a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) que tem a missão de investigar e punir a informação falsa, sendo também esta Entidade a responsável pela emissão e revogação de licenças e é evidente que agiu, mas de forma muito branda condenando “a estação de Queluz de Baixo a transmitir, em horário nobre, um bloco em que serão exibidas as conclusões do regulador” e ainda ao pagamento de 459 Euros de multa. Por outras palavras uma palmadinha pedagógica, que certamente não impede outras acções do mesmo tipo, quer pelo grupo da TVI, quer por outros grupos de outros órgãos de comunicação. Uma acção séria como a revogação da licença de emissão, ou uma multa severa, bem superior ao valor de quatro pneus de marca branca, seria um belo exemplo para a seriedade e vontade de confirmar os factos antes de transmitir a informação. Há também investigações do tribunal por indícios de crime, até porque aparentemente e alegadamente existem algumas relações empresariais em que o grupo dono da TVI é supostamente uma participada da empresa dona do Santander, mas até hoje ainda não se chegou a nenhuma conclusão sobre isso e eventualmente nunca se chegará.

António Manuel Guimarães

quinta-feira, junho 07, 2018

http://atividadesdeportugueseliteratura.blogspot.com/2016/07/tirinha-calvin-tema-sensacionalismo.html
Lixo informativo

Desde cedo senti que era a informação era fundamental, talvez porque em minha casa era regra ter sempre o jornal do dia. O meu pai comprava religiosamente e diariamente jornais e às segundas, quintas e domingos comprava dois, porque era nesse dia que se vendiam os desportivos e à sexta-feira ainda recebíamos em casa a “Gazeta das Caldas” de que os meus pais foram assinantes durante anos. O primeiro jornal nacional de que me recordo de ver em casa foi “A Capital”, antes desse penso que era o “Diário Popular” mas sem certeza. Também relativamente à televisão a informação era sempre vista com atenção, o telejornal era visto todos os dias a seguir ao jantar. Claro que nos primeiros anos o telejornal era o programa que menos me interessava e que apenas marcava a proximidade de ir para a cama.
Mas claro está que crescendo neste ambiente volta e meia ouvia uma notícia que me interessava, ou lia uma notícia no jornal que me despertava interesse e por fim lá estava eu a acompanhar o telejornal e a ler os jornais.
Uma coisa é certa, desde que comecei a acompanhar as noticias que senti admiração pelas pessoas quer dos telejornais, quer da imprensa, em especial porque lhes reconhecia cultura, espírito critico, criatividade, inteligência e para além de tudo isto profissionalismo e zelo com o trabalho que se fazia. Mais tendencioso ou menos tendencioso, mas tenho a impressão que o jornalismo dos finais dos anos 80 e início de 90 era muito bom, faziam essencialmente bom trabalho. Um exemplo era os erros, ou gralhas, havia tanto cuidado e zelo que um erro num jornal merecia uma correcção logo no dia seguinte, porque era um de ponto de honra escrever correctamente.
Depois durante os anos 90 surgem em Portugal mais dois canais televisivos, primeiro a SIC e depois a TVI, canais privados para fazer concorrência aos dois que havia anteriormente, a RTP 1 e a RTP2 que pertenciam à mesma empresa, a Rádio Televisão Portuguesa que era e é estatal. A concorrência pode ser uma vantagem, porque muitas vezes obriga a que quem surge de novo tenha que ser melhor do que aquele que está estabelecido, para conseguir atrair público e aqueles que estão estabelecidos têm que se actualizar para conseguir aguentar o seu público. E inicialmente tudo funcionou bem, as notícias receberam um lufada de ar fresco, novos jornalistas, novas maneiras de abordar a informação e o rigor mantinha-se. No entanto os novos canais, para atrair público, volta e meia cediam ao sensacionalismo, procuravam a notícia chocante e se não a encontravam faziam-na. A SIC foi a primeira a embarcar nesta prática e mais tarde a TVI, em especial quando deixou de pertencer à Igreja e foi comprada primeiro pela SONAE e depois pela Média Capital, mergulhou inteiramente no sensacionalismo barato. As notícias que não interessavam, que tinham apenas como intenção provocar o impacto, elevar os mexericos a casos nacionais, quanto mais bombástico melhor e no início do novo milénio era para mim impossível ver os noticiários quer da SIC, quer da TVI.
Quanto à imprensa, as coisas seguiram um caminho parecido, os jornais que pertenciam a empresas pequenas foram sendo comprados por empresas maiores, o Grupo Impresa dono da SIC, que já detinha o “Expresso” foi comprando outros jornais, muitos destes desapareceram das bancas, a Média Capital dona da TVI comprou também alguns jornais e até a Rádio Comercial, surgem também grupos inicialmente de jornais que se tornam dominantes como a Cofina dona do “Correio da Manhã” e do “Record”. Os jornais que permaneciam independentes e que antes eram de referência foram perdendo estatuto e espaço e acabaram por desaparecer. E com eles também desapareceu a qualidade, o interesse em informar, o rigor, a inteligência e o zelo. O surgimento da Internet e dos jornais on-line foi a machadada final. E hoje apenas três jornais são considerados de referências, dois sérios “O Púbico”, que é diário e tem tido uma deriva demasiado tendenciosa e que já me perdeu como leitor e o “Expresso” semanário em papel e diário on-line e por fim o maior de todos e jornal de referência nacional o “Correio da Manhã”. Este jornal entretanto ganhou também espaço televisivo e é um caso sério de popularidade, pois rapidamente ultrapassou os outros canais exclusivamente informativos e é hoje um dos canais mais vistos na TV. No entanto quais são os temas deste jornal e canal? O choque, o drama, o horror, tudo o que é mexerico merece directos, por vezes estão lá antes de se dar o caso porque são informados previamente que o caso se vai dar, dão voz a todo o disparate, a todo rumor, inventam notícias, repetem até à exaustão como se assim a mentira passasse a ser verdade, quando o caso não se dá, inventam outra para tapar a primeira treta, muitas vezes mascaram de “notícias” as opiniões privadas de alguns. O jornal em papel tem ainda um bónus, diariamente nas páginas centrais tem o “bem organizado” guia da prostituição em Portugal, em que separa as prostitutas por distrito e por concelho, porque vá, o jornal é nacional. Mas o grave é que este estilo vende, as pessoas sentem-se atraídas pela tragédia e para as “investigações” que o jornal faz. Lembro-me de um caso recente em que este pasquim “descobriu” através de um arrependido que um alto funcionário de um clube de futebol tinha comprado jogadores e árbitros, o arrependido foi glorificado durante dias, todos os dias surgia um arrependimento novo, começou no andebol e acabou quando deu com a língua nos dentes e disse que tinha sido pago por este jornal para dizer o que disse, passou de bestial a besta numa edição e de informador endeusado passou à personificação da besta demoníaca do Apocalipse em nota editorial.
Depois por fim existe ainda outro problema relativamente às noticias, são as “replicações”, uma noticia avançada por este órgão de referência é replicada por todos os outros órgãos de comunicação, ou seja, este pasquim diz que aconteceu isto e záz, passados poucos minutos todos os outros órgãos afirmam que segundo o jornal “c” aconteceu isto, sem verificar, sem falar com os intervenientes, sem cuidado, sem contraditório, mas com muita pressa para não perder a “cavalgada” de uma noticia, por mais dúvidas sobre a veracidade que possa existir, ninguém quer perder o momento.
Em suma, a imprensa de referência hoje em Portugal é má, em especial o jornal de maior tiragem, porque desinforma, é tendencioso e tem apenas o objectivo de fazer dinheiro, fazendo “tábua rasa” relativamente ao cumprimento daquilo que deveria ser as suas principais funções que são a luta pela verdade e informação honesta, escudando os seus atos na liberdade de imprensa, tem a mesma veracidade do que muitas noticias com que somos brindados praticamente todos os dias nas redes sociais.

António Manuel Guimarães