quinta-feira, janeiro 31, 2019

Caso Caixa


Toda a minha vida fui cliente da Caixa Geral de Depósitos, não por ser um grande banco, não por ser mais vantajoso, mas por ser o banco dos meus pais e, portanto, o banco em que a certa altura eles abriram uma conta em meu nome, conta que mantive. A grande vantagem da Caixa sempre foi o facto de ser do estado e por conseguinte ser seguro face a qualquer instabilidade e num caso de caos ser o último banco a cair. No entanto e por ser do estado nunca foi um banco com grandes taxas de juro e assim não dava grande lucro em depositar o dinheiro, mas em compensação tinha taxas de manutenção de conta que eram ou mais baixas que a concorrência ou em determinados casos simplesmente não existiam.
No entanto, a determinada altura, algo mudou, ali no período final da crise o banco começou a mostrar um comportamento diferente, falava em prejuízos, as antigas contas a prazo estavam a ser descontinuadas e tudo o que se fazia tinha custos, havia balcões a fechar e despedimentos. A presidência do banco falava em situação delicada e necessidade de voltar aos lucros nem que para isso tivessem que ser os clientes a pagar. E quando Paulo Macedo foi para a frente do banco era evidente que o problema era sério, porque Paulo Macedo é conhecido por ser um homem que resolve casos difíceis, o governo já havia recorrido a ele quando era imperativo rever o sistema de imposto nomeando-o Diretor-Geral dos Impostos.  Mas na caixa o problema parecia ser ainda mais complexo, cada vez mais custos, cada vez menos produtos vantajosos, cada vez menos vantagens, cada vez mais parecido com um banco privado que busca o lucro e não servir o cidadão como é função de qualquer serviço do estado.
Sinceramente quando tudo isto começou foi fácil chegar a uma conclusão e ainda por cima era algo que até os funcionários do banco davam como desculpa, mas francamente parecia lógico. Era o seguinte, devido à crise o Banco Central Europeu baixou as taxas de juro e a certa altura passou mesmo a ser 0%, ou seja, procurou-se com isso aliviar as pessoas que estavam a pagar empréstimos,  mas por outro lado e com esta perda os bancos deixaram de ter condições para pagar as taxas de juro contratadas nos depósitos a prazo e com esse prejuízo não encontraram outra alternativa que não fosse cobrar a quem deposita, curiosamente cobrar a quem é poupado para pagar por quem não consegue, por razões várias, pagar o que deve. Era simples e, embora pouco justo, batia certo.
Mas eis que esta semana ficámos a saber, entretanto que o grande problema da Caixa Geral de Depósitos, a razão que a fazia e faz estar em maus lençóis é um problema muito grande e muito pouco honesto. A Caixa durante vários anos andou a emprestar a “amigos”, para negociatas ruinosas, sem controlo, sem regras, totalmente escandaloso, às vezes empréstimos superiores aos activos ou seja sem garantias, de empresas que mesmo com esse dinheiro ficaram insolventes, assim como casos de empresários falidos a pedir 280 Milhões de euros e foi concedido, no total e só juntando os nove primeiros devedores há “mais de 2,3 mil milhões de euros de empréstimos em risco de não serem pagos” e tudo isto feito sem controlo pois “Segundo o relatório da consultora Ernst & Young, não se encontram "documentadas as justificações para a tomada de risco contrária ao parecer" da Direcção de Gestão de Risco, nem existe "evidência que tenha sido obtida toda a informação exigível para fundamentar a aprovação da operação", como estudos de viabilidade.”
Conclusão a razão para a Caixa andar a cobrar aos clientes, em particular aos depositantes, deve-se a este descontrolo, a uma situação que só hoje o Ministro das Finanças reconheceu publicamente e reconheceu porque foi obrigado a isso, pois os números foram descobertos pelos jornais, porque até lá estava tudo no segredo dos deuses para esconder tudo isto para proteger os amigos dos poderosos que se permitem fazer actos como este, prejudicando todos nós e não só clientes da caixa, mas todos nós cidadãos portugueses.

António Manuel Guimarães