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(imagem in blog. deixalaentrar) |
Ponto prévio, apenas li Fernando
Pessoa quando estava na escola, e confesso que li porque fui obrigado a isso,
fiz um trabalho com alguns colegas porque assim foi exigido pela professora de
Língua Portuguesa e tenho que dizer que nunca gostei de ler Pessoa,
simplesmente não me cativa. No entanto e tal como me foi explicado na escola,
lá porque eu não gosto não significa que eu não deva reconhecer a genialidade
quando ela existe. E hoje, de facto, compreendo a genialidade de Pessoa, mesmo
que ache que ele é um louco, mas qual é o génio que não é um louco?
Posto isto, quero falar da minha
opinião relativamente às diversas controvérsias, ou polémicas em que a obra de
Fernando Pessoa está actualmente envolvida. A primeira polémica foi sobre a
“Ode Triunfal”, considerada por muitos como uma obra prima, parece que agora,
ou seja, na era dos “ofendidinhos” e militantes da ditadura do “politicamente
correcto”, estes arautos da pureza intelectual, descobriram que está presente
uma estrofe que fala num acto sexual que configura pedofilia e de facto, numa
observação literal, está. Mas está porquê? Será porque Fernando Pessoa, ou
melhor, Álvaro de Campos aprova relações com menores? Ou será, e esta é a minha
humilde opinião, que Álvaro de Campos pretende dar um exemplo da degeneração da
civilização Europeia do seu tempo?! Concordo com Jacinto do Prado Coelho quando
diz que a utilização destes termos pretende transmitir uma carga incisiva e
mordaz, revoltado e torrencial. Assim devemos concluir que a polémica inserida
na agenda sobre a “Ode Triunfal” foi apenas mais um acto de censura que a
“ditadura do politicamente correcto” fez para agradar aos “ofendidinhos”, que
não passam de seres vazios que não conseguem entender o que lêem e não
conseguem ir para lá do que está escrito, e estão bem longe de perceber o
contexto em que aquela obra se insere.
E falando em contexto entra a
segunda polémica, nestes primeiros dias de Fevereiro, surgiu uma nova contestação
e esta não recai sobre nenhum heterónimo, é mesmo sobre o homem Fernando
Pessoa. Esta nova polémica surge, porque em Angola, alguns académicos defendem
que Pessoa seja retirado das obras em estudo do espaço da lusofonia, porque,
dizem, era racista! Engraçado, porque com esta “descoberta” iluminada só me apraz
dizer que estes académicos são apenas e só, deixa lá ver se digo isto de uma
forma simpática, ignorantes. Então esperavam eles que Pessoa nascido no século
XIX e que morreu na década de 30 do século XX fosse um individuo com as
concepções ideológicas que apenas se foram generalizando na segunda metade do
século XX. Felizmente todas as pessoas de bem não são racistas, para mim o
racismo nos dias de hoje é simplesmente inaceitável! No entanto temos que
admitir que não podíamos esperar que Pessoa pensasse desta forma, seria no
mínimo estranho se o fizesse, pois logicamente o seu pensamento estava de
acordo com a mentalidade da sua época. Aliás vejam Camões, vejam todos os Reis
desde D. João I a D. Luís, vejam todos os escritores portugueses até 1878 e proíbam
o estudo de todos eles. E mais, apesar da proibição da escravatura em 1878,
tantos séculos de escravidão e domínio não se apagam de um dia para o outro,
ainda na guerra colonial portuguesa, o principio do racismo continuava
fortemente presente, ou seja, até 1974 e hoje ainda não desapareceu, persiste
de forma latente, temos até candidatos às europeias, arautos dos
“ofendidinhos”, que o proclamam abertamente. No entanto, a menos que estes
“académicos” queiram proibir todos os autores portugueses até à década de 60 do
século XX, deixem-se de tretas, e se quiserem perceber então estudem história,
percebam que as mentalidades mudam, assim como não podemos exigir que um autor
do passado escreva segundo os cânones do aceitável dos dias de hoje e,
convenhamos, é também um claro sinal de ignorância estudar algo do passado sem
ter a capacidade abstracta de perceber que a mentalidade era necessariamente
diferente, pensar e agir assim é somente um sinal de falta de inteligência e
retira qualquer legitimidade à argumentação angolana!
António Manuel Guimarães