domingo, abril 30, 2006


Europa – Que Futuro ?
Durante séculos a Europa foi o centro civilizacional, que através do seu modelo económico e cultural, liderou todos os restantes continentes. A Europa do Renascimento, a Europa dos descobrimentos e da consequente colonização, a Europa das Luzes, a Europa do Capitalismo – dominou, pela positiva ou pela negativa o mundo que conhecemos.
Com as duas grandes guerras, e em particular a última, a Europa foi perdendo o seu lugar ao sol para os E.U.A e para a URSS. Todavia quer os EUA, como antiga colónia britânica, quer a URSS herança dos Czares, sempre eram produtos culturais e económicos da Europa. No pós guerra a Europa ocidental não mais alcançou a posição cimeira dos EUA na cena internacional. Em termos económicos a Europa por via do projecto de integração europeia voltou à sua posição de gigante económico. De 1945 até ao final do século assistiu-se a uma grande melhoria do nível de vida dos Europeus. Melhores salários, aumento exponencial do poder de compra., emprego, diminuição da jornada de trabalho, aumento da escolarização, mais direitos sociais, aumento da protecção social, reforço dos mecanismos de segurança social, acesso à saúde e à protecção no desemprego.
No novo século, dois gigantes adormecidos despertaram. A China (império do meio) e a Índia acordaram para o desenvolvimento. De lá para cá, ambas industrializaram-se, modernizaram-se a um ritmo incrível, o qual vem minando a competitividade Europeia. Efectivamente a China, a Índia e outros países asiáticos, economias ausentes de direitos sociais e com salários incrivelmente baixos, numa estratégia de dumping social, não deixam salvação à indústria europeia. Primeiro nos sectores do calçado, dos têxteis, para gradualmente irem avançado para sectores com mais valor acrescentado como a indústria automóvel.
Perante a conjuntura económica selvagem, a Europa passa por um dos seus momentos mais difíceis. Muitos argumentam que o caminho para a Europa é a especialização nos sectores e indústrias, do conhecimento e da tecnologia de ponta. Obviamente que tal aposta é fundamental, como elemento de diferenciação. Infelizmente no meu ponto de vista, tal estratégia é importante, mas não resolve todos os problemas. As indústrias do conhecimento apenas absorvem uma pequena parte da população activa de elevadas qualificações. O que se vai fazer da restante população activa? Que sectores, consumidores de mão-de-obra, irão absorver a população activa, sendo necessariamente competitivos?
Na minha opinião existem dois cenários possíveis:

Cenário 1

A Europa opta pelo proteccionismo. Opta por fechar as suas fronteiras por meio de pautas aduaneiras duras para com os produtos asiáticos (chineses, indianos, etc.). Toda a sua estratégia visa a produção e a satisfação do seu mercado interno de 300 milhões de consumidores. Por esta via, as suas indústrias tradicionais ou não, deixam de ter como adversário o dumping social asiático. Defende-se o emprego e a competitividade, ainda que artificialmente da economia europeia. Mantêm-se os direitos sociais, e os mecanismos de solidariedade do estado social. No entanto a sobrevivência do estado social implica uma politica de promoção da natalidade, em simultâneo com uma abertura controlada à imigração.
Perdem-se mercados, influência e posição geopolítica, e espírito competitivo

Cenário 2

A Europa mantém os seus mercados abertos e procura competir com as novas potências. Necessariamente, promove uma profunda reforma da sua política de emprego.
Flexibilização, aumento do horário de trabalho, facilidade de despedimentos, diminuição salarial, redução da despesa pública em encargos sociais, abertura à imigração, desregulamentação sectoriais, reforço das qualificações individuais, etc.
Ou seja opta-se pela perda de direitos e garantias do estado social em troca de competitividade.

Qual é o caminho correcto?
Espero sinceramente que exista uma terceira via, a bem de todos, apesar de não a deslumbrar.
António Cipriano

quarta-feira, abril 26, 2006


Ouro Negro

Recentemente o Ministro das Finanças, afirmou na comunicação social que não estava preocupado com o aumento do preço do petróleo. Obviamente que tais declarações apenas podem ser ignorância ou demagogia. Tendo em boa conta as qualificações do Prof. Teixeira dos Santos, só pode ser demagogia, bem ao sabor da rosa socialista.
Não é necessário ser um perito em economia para saber que o agravamento do preço do crude para valores periclitantes, tem graves consequências económicas. Os livros de economia nos explicam que um aumento do preço do crude tem com consequência primeira, um aumento da inflação que reduz o poder aquisitivo das famílias. Por norma os bancos centrais procurando estancar a inflação, aumentam as taxas de juro. O aumento das taxas de juro, torna o credito mais oneroso, dificultado o investimento das empresa, tornado o serviço da divida publica mais penoso, apertando ainda mais, o orçamento das famílias já endividadas, conduzindo a uma diminuição dos consumos públicos e privados. Menos consumo, menos produção, menos emprego – estagnação ou mesmo recessão económica.
Como se vê os efeitos da subida do ouro negro são bem negros!!!
António Cipriano

terça-feira, abril 25, 2006


25 De Abril

Comemora-se hoje o 25 de Abril, data da revolução que aconteceu em1974 e que pôs fim à ditadura perpetrada pelo regime conhecido por Estado Novo. Uma revolução feita por militares e mantida pelo povo, todos em conjunto fartos da hipocrisia e abusos que o regime praticava. A importância do povo é primordial, porque se não fosse a sua vontade a revolução nem um ano tinha feito e a 28 de Setembro teria soçobrado às mãos de quem queria reacender a ditadura. Revolução que viveu vários percalços, especialmente durante os dois primeiros anos, com lutas entre a extrema-esquerda, que queria substituir uma ditadura de direita por uma do “proletariado” e a esquerda moderada que pretendia impor a democracia, não falo de outras tendências porque nesta altura tudo o que não tivesse esquerda na designação era considerado fascista. Felizmente em 1976 as coisas acalmaram e começa a surgir a ideia que a democracia só pode vingar se apostar na diversidade democrática, dai em diante mais uns quantos percalços de menor gravidade e que foram ultrapassados, ajudaram a cimentar a ainda muito frágil democracia.
Muitos disseram que com a entrada de Portugal na então CEE em 1986, o 25 de Abril tinha morrido e que isso tinha marcado o fim da revolução, eu pessoalmente não acredito nisso, o 25 de Abril é mais do que uma comemoração com uns discursos bonitos e lembranças de um dia diferente, para mim é um estado de espírito, é acreditar em Portugal e na vontade de todos os portugueses em permanecer livres, falo de liberdade e não de libertinagem. Libertinagem em conjunto com inacção e conformismo são as únicas coisas que alguma vez podem pôr em perigo o 25 de Abril, cabe a todos os portugueses tomarem parte para que estes germes não prosperem e isto faz-se desde a participação na vida politica activa, até ao mais importante acto fundamental da vida democrática, o voto.
É certo que muitos erros foram cometidos com o mote da revolução, muito por culpa de alguns oportunistas e alguns governantes com algumas intenções não tão honestas quanto isso, falo das expropriações, roubos e nacionalizações, erros que não podem nem devem ser atribuídas à revolução, mas sim a alguns indivíduos, que com a desculpa do bem colectivo pretendiam ajudar-se apenas a si próprios num egoísmo estúpido. Estes erros não devem ser esquecidos, devem ser recordados para que não deixemos que se repitam, da mesma forma como não queremos que a ditadura se repita.
Concluo dizendo algo que me vai na alma em todos os 25 de Abril e que eu espero nunca perder: VIVA O 25 DE ABRIL! VIVA A LIBERDADE!

António Manuel Guimarães

sexta-feira, abril 21, 2006


Homenagem

É com tristeza que vejo ser prestada homenagem ao judoca Nuno Delgado. O sentido das palavras pode ser traiçoeiro, a tristeza não pela homenagem ser feita a ele, a tristeza é da altura em que ela é feita, afinal Nuno Delgado sendo tão jovem ainda teria muitos anos de carreira pela frente, infelizmente uma lesão assim não quis e terminou precocemente. Já que a vida continua, se não pode competir, que tenha futuros êxitos a ensinar a sua modalidade que, ultimamente tanto orgulho tem dado a Portugal, mostrando sucessores à altura de Nuno Delgado, como José Neto, José Pina, Renato Morais e outros. Por todo o sucesso além fronteiras, obrigado Nuno Delgado pela tua carreira.
PP

quarta-feira, abril 19, 2006

O Infiltrado

O Infiltrado de Spike Lee não se trata somente de um filme sobre um assalto a um banco. Vai bem mais além. O móbil do assalto não é o dinheiro, os bandidos não os maus da fita, os reféns não são reféns.
O realizador, profundo conhecedor da sua cidade de sempre - Nova Iorque, deslumbra com o correr dos minutos a Nova Iorque da riqueza suja, dos jogos de poder político dúbios, do trafico de influências e dos conflitos raciais.
Em Infiltrado nada é o que parece.
Tudo isto com um excelente elenco (Denzel Washington, Clive Owen e Jodie Foster), e bons planos, apimentado aqui e acolá, com pormenores deliciosos do realizador
António Cipriano

quinta-feira, abril 13, 2006


Justificação de falta

Na passada quarta-feira, na Assembleia da República não foi possível deliberar sobre um conjunto de diplomas, em virtude de não existir quórum. Cento e vinte Deputados, estavam ausentes do trabalho no parlamento. O presidente da assembleia, de imediato requereu a justificação de falta dos parlamentares.
As primeiras averiguações, apontam para ausências plenamente justificadas, por intenso e doloroso trabalho político, fora do parlamento.
Entre as justificações que devem ter chegado ao Presidente da Assembleia devem figurar algumas como:
-Contacto politico com as comunidades portuguesas do nordeste brasileiro
- Viagem de trabalho a Bangkok para analisar as potencialidades da massagem tailandesa, com vista à possível integração no SNS
- Analise e contacto com os problemas da indústria de restauração de Albufeira
- Participação, em representação do estado português no torneio internacional de golfe da costa alentejana
- Ausência nos escritórios da assembleia para analisar as potencialidades pedagógicas do Pro Evolution Soccer 5
- Recepção parlamentar da associação de Modelos de Moda Femininos
António Cipriano

sábado, abril 08, 2006

CP

Uma das causas endógenas dos défices orçamentais nacionais, são os sucessivos e já históricos, buracos financeiros de algumas empresas públicas. Muitos, resignados, argumentam que é o preço do serviço público. Não sou de forma nenhuma, favorável à extinção dos serviços públicos, ou à privatização total.
Todavia, algo pode e deve ser feito. A TAP, e a RTP eram exemplos de empresas com crónicos deficits, as quais, após uma reestruturação profunda, são hoje exemplos de razoável sucesso.
Tudo isto a propósito da apresentação de resultados da CP. A CP no ano de 2005, reportou um prejuízo de 197 milhões de Euros, ou seja, um prejuízo diário de 539.000, Euros, 22.458 Euros/hora, 374,3 Euros/minuto, 6,24Euros/segundo !!!!!! Gosto imenso de viajar de comboio, mas não estou disponível para continuar a subsidiar com os meus impostos este monstro.
Urge a reestruturação da CP. Esta será dolorosa, para as populações e para os 4409 funcionários, mas necessária e urgente. Mas também existem muitos mercados por explorar. A título de exemplo, da minha cidade Caldas da Rainha, para Lisboa existem 10 expressos diários, maioritariamente cheios. Já comboios na Linha do Oeste, para o mesmo percurso, existem três ou quatro, em carruagens ultrapassadas que param em todos as estações e apeadeiros, terminando o percurso em Meleças em cerca de 2 e duas horas e meia, custando o mesmo do Expresso. Perante este cenário, os comboios viajam vazios. Falta de mercado? Não!! Falta sim, visão e interesse da administração da CP. E este, é apenas um de muitos exemplos.
Enquanto assim for, lá continua a CP nos carris do défice....
António Cipriano

quinta-feira, abril 06, 2006


Trauma


Passaram mais de 30 anos desde o fim da guerra colonial portuguesa. Uma guerra desgastante, que tinha como único objectivo aguentar a miragem faraónica do Estado Novo. Uma guerra camuflada de policiamento militar contra grupos “terroristas”. Que matou muitos jovens, outros ainda hoje sofrem de outros males que a guerra trás, males como deficiências físicas e/ou psicológica. Mas para todos os efeitos, uma guerra que aconteceu e quer nós queiramos quer não, faz parte da nossa história. E esse tem sido um grande problema do Portugal democrático, pois andámos anos e anos a recusar esse marco negro da nossa história, escondendo a cabeça na vergonha como se nada disso merecesse ser recordado e estudado friamente.
Há uns dias, vi pela primeira vez um documentário no canal de história totalmente dedicado à guerra em Moçambique. Estava esperançado de ver um trabalho sério feito por historiadores. Mas infelizmente a esperança tornou-se em desilusão, quando vi que foi mais do mesmo. O documentário não foi mais do que os militares que combateram em Moçambique a recordarem a sua experiência de guerra, dando o seu testemunho. Embora esta faceta do documentário seja importante torna-o só por si incompleto, não é um trabalho válido dentro do quadro do documentário histórico, é quanto muito uma crónica, porque não existe o distanciamento necessário para fazer uma interpretação fria dos factos, de compreender os antecedentes e no fundo entender a guerra e o problema colonial na sua totalidade. Ou seja, o trabalho que compete a um historiador não foi feito, preferia ter presente um Fernando Rosas, que ainda se consegue distanciar um pouco da sua família politica e fazer um trabalho honesto no que diz respeito à história, a ver aquilo que todos sabemos, que a guerra faz sofrer e que é má. É certo que já é alguma coisa, porque ao menos já é permitido tocar na ferida, mas está na altura de fazer um trabalho honesto e estudar a guerra colonial tal como ela merece, uma análise fria que permita dar a conhecer a todos, toda a complexa questão colonial, sem estar preso a ideologias politicas e sem traumas.

António Manuel Guimarães

terça-feira, abril 04, 2006


Populismos


Existe uma certa intelectualidade que considera o populismo e a demagogia, um produto específico de alguma direita. Nada mais errado. O populismo, como tudo de mau na sociedade, existe em todos os sectores, e correntes políticas.
Caso paradigmático de populismo perigoso de esquerda ,vive-se na América do Sul. Evo Moralles, na Bolívia e Hugo Chavez na Venezuela são os mais recentes exemplos. Conhecem algum presidente que tenha um programa semanal de duas horas na televisão? Hugo Chavez tem!!! Hugo Chavez sob a capa de um socialismo igualitário vem destruindo a já débil economia venezuelana. Na Bolívia, Moralles, com um discurso patético de nacionalismo indígena, segue as mesmas pisadas.
António Cipriano