Esta semana ficámos a saber em
primeira página no maior tablóide da imprensa escrita nacional que, por acaso,
também tem um canal de notícias (??), que a medalha de bronze conquistada pela
judoca Telma Monteiro, custou 17,7 milhões de euros ao Estado português! Eu não
sou nem nunca fui jornalista mas, presumi que como qualquer outra profissão,
fossem regidos por códigos deontológicos e éticos, que fossem rigorosos na
abordagem dos assuntos que escrevem e que não mandassem disparates para o ar e
ainda mais grave irem parar à primeira página. Mas, se os jornalistas falharam,
por onde andam os editores que devem verificar todas as fontes e rigor
jornalístico do que está a ser publicado? Talvez seja pedir muito a um jornal que
perde tempo com “não-notícias” como resgates de microfones. Enfim, uma
aberração nacional com tempo de antena. O prémio que a Telma Monteiro recebeu
da medalha de bronze foi de apenas 17.500 euros e não os 17 milhões apregoados.
Como se chegou a esse valor então de 17 milhões?? O jornalista quis criar um
assunto a partir do nada e o jornal para que trabalha foi conivente. Esses 17
milhões e setecentos mil euros dizem respeito ao valor despendido para a
preparação e participação de TODOS os atletas portugueses presentes no JO Rio
2016 e foi distribuído pelo ciclo olímpico, ou seja, durante 4 anos, o que perfaz
a quantia de 4, 425 milhões ao ano por atleta. Mas, eu estou a fazer uma
simples conta matemática, pois há atletas que não conseguiram o apuramento para
os Jogos Olímpicos e estavam contemplados por bolsa e, vice-versa, atletas que
não tinham bolsa e foram apurados. Ora, a 91 atletas, isso dá 48.626,37 € a
cada atleta por ano. E querem medalhas???
O
desporto está cada vez mais profissionalizado, seja qual for a modalidade que
se pratique e, os JO são o expoente máximo. Só os melhores conseguem lá chegar
e, para lá chegar, os atletas têm de treinar. Para treinar precisam de
treinador ou treinadores. Isso custa dinheiro, pois o treinador não vive do ar.
Precisam de entrar em competições, nomeadamente internacionais, que também custam
dinheiro em alojamento, alimentação, viagens. Os melhores atletas do planeta
têm equipas técnicas formadas por treinadores, preparadores físicos, fisioterapeutas,
psicólogos, observadores, etc. Todos eles necessitam de dinheiro para viver,
como é que menos de 50 mil euros por ano dá para isso tudo? Facilmente
verificamos que quem exige medalhas está desajustado do que é a realidade,
ainda para mais em que o ensino da Educação Física no Ensino Básico está
contemplado há bastantes anos e, não é feito em muitas escolas portuguesas…
Somos um povo que retirou a disciplina de Educação Física da média dos alunos
e, mesmo pessoas com formação superior desprezam aqueles que são formados em
Desporto e Educação Física… O Desporto é uma das maiores indústrias do Mundo e,
Portugal está a ficar para trás. O trabalho do futuro para o ser humano, passa
por actividades em que ele é imprescindível, como Desporto e Música. Os
trabalhos fabris criados pela Revolução Industrial são indústrias em que o factor
humana cada vez mais é reduzido e substituído por máquinas que não se cansam,
não tiram férias e trabalham à mesma velocidade o tempo que estiverem
programadas para tal, sem queixas e sem abrandamentos (a não ser que avariem) e
o ser humano só é necessário para reparar as avarias, daí que não sejam
necessários tantos empregados como antigamente. Enquanto os nossos governantes
não chegarem a essa conclusão, ter 24 medalhas olímpicas é um feito enorme para
tão parco investimento no Desporto…
N’ “A Bola” de
23 de Agosto, numa página de artigo de opinião de um jornalista/escritor, esse
mesmo artigo que Pinto da Costa, o Presidente do FC Porto apelidou de “nojento”
mas por outras razões que não as que apresento, o jornalista/escritor
caracteriza a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro
como um desastre e, excluí as prestações de três atletas, Nélson Évora, Patrícia
Mamona e Telma Monteiro e, refere que nem quer saber da história da falta de
condições. Como apreciador deste jornalista, enquanto escritor e não como o ser
humano (?) que é, também eu não gostava de ouvir desculpas há alguns anos,
quando o mesmo foi assaltado e ficou sem um portátil e ter perdido “um ano de
trabalho” em referência a dois livros que estava a escrever, afinal num mundo
com discos externos, pens, cloud, onedrive, etc., perder 2 livros que estava a
escrever e queixar-se é aberrante…
Em 2008, saiu
um Decreto-Lei que criou a Cédula do Treinador, um documento que habilita e
regula o exercício das funções de um treinador. Concordo plenamente com a sua
existência, no entanto, o que é exigido aos Treinadores novamente não é pedido
aos nossos governantes responsáveis… Estamos em 2016 e a plataforma continua
sem a maioria das funcionalidades activas, o desporto não dá dinheiro em
Portugal e para receber formação muitos têm de ir ao estrangeiro para a receber
e, têm igualmente um emprego paralelo. A lei não contempla a justificação de
faltas por participação em formações no estrangeiro, entre outras coisas… no
país que apesar de não investir para isso, quer medalhas!!
PP