História do Déficit
Nos últimos anos, Portugal habituou-se a viver em torno de conceitos económicos como déficit, crise orçamental e despesismo publico. Aparentemente, pode parecer que Portugal enquanto país, sempre se caracterizou pelo equilibro orçamental e por políticas acertadas, com total ausência de despesismo. Nada mais errado. A História de Portugal é uma sucessão de momentos permanentes de déficit financeiro. Foi assim na Monarquia e na Republica. Em termos de descalabro financeiro publico, não existem donzelas virgens do pecado.
Durante séculos e séculos, os diferentes monarcas coleccionaram dividas publicas e déficit bem gordos. Alias, foram muitos os reis que viveram graças aos “balões de oxigénio” de banqueiros italianos e da Flandres que cobravam aos estados juros especulativos. No fundo, o despesismo e o déficit sempre foram um modo de vida em Portugal. E quanto a história nos recheou de momentos de gloria, como a expansão marítima dos séculos XV e XVI, e com os consequentes rios de dinheiro, não os aproveitamos correctamente. Efectivamente, no século XV durante cerca de 30 anos fomos a maior potência militar, política e económica do mundo. No entanto, envés de investirmos esse dinheiro na modernização do tecido produtivo nacional, no apoio às manufacturas da época, limitamo-nos ao papel de meros intermediários no comercio das especiarias, entregando os grandes lucros aos mercadores da Flandres. Mesmo assim os elevados lucros obtidos, foram desbaratados na boa vida, no luxo e em monumentos grandiosos. Mais tarde com o ouro do Brasil, D. João V, deu largas a sua imaginação, gastando montanhas de dinheiro em igrejas, palácios e no luxo ofuscaste da corte.
Tristemente nada aprendemos com a história, e com o novo mar de fundos comunitários ao contrário de outros, não os aproveitamos devidamente. Adiamos mais uma vez, as reformas estruturais.
Todavia, se o cenário económico não é risonho, tal não é motivo para derrotismos ou angústias extremas. No passado, Portugal viveu momentos ainda mais difíceis e soube sempre os ultrapassar. E desta vez não será diferente. Compete a nos, cidadãos exigir da classe política, um comportamento responsável, um política verdadeira e de verdade, que resolva por uma vez por todas, os problemas das contas publicas. Aos cidadãos compete trabalhar com afinco e sentido cívico, para o aumento da riqueza e a consequente eliminação do déficit.
Portugal tem passado e terá obviamente um grande futuro, para o bem de todos.
António Cipriano