
Somália
Porque falar da Somália? Porque falar de um país ingovernável, situado lá no fim do mundo?
A verdade é que se analisarmos com cuidado, a Somália é um país de uma importância capital nos domínios geopolíticos. Convêm olhar devidamente para o mapa. A Somália, Corno de África como é conhecida, país mais oriental de África, tem uma posição estratégica no acesso ao Golfo de Adem e ao Mar Vermelho. Estas vias marítimas dão acesso a países como o Iémen e à Arábia Saudita, potentados petrolíferos. Um regime político anti ocidental, pode dificultar e apresentar entraves ao acesso aos portos desses países, podendo em última análise ser factor para um aumento do preço do crude. Para além da questão petrolífera, na Somália joga-se outra questão – a Islamização Africana. Chade, Sudão, são países de influência islâmica, podendo a Somália com a estabilização do domínio das Forças dos Tribunais Islâmicos acrescentar mais um membro para esse grupo. Ainda mais quando o regime dos Tribunais Islâmicos tem muitas semelhanças com o regime dos talibãs do Afeganistão. Aproveitando a insegurança crónica, a instabilidade e a ausência de um governo central desde a queda do ditador Said Barre em 1991, os Tribunais Islâmicos aproveitaram para impor um princípio de regime fundamentalista (proibição da televisão, da musica, do futebol, foram alguns do sintomas).
È neste contexto de importância geopolítica e de crescente perigo fundamentalista que os EUA pela mão da Etiópia (país cristão) intervêm na Somália. Apesar de ser contrário por principio a ingerência externas, tenho que considerar esta intervenção um mal menor.
Espero apenas que esta seja mais do que uma intervenção anti-islâmica, e que procure auxiliar a Somália na consolidação de uma arquitectura constitucional estável que traga paz e desenvolvimento para um povo já muito sofrido.
António Cipriano