
Grandes Portugueses
Os resultados do concurso televisivo “Grandes Portugueses” devem ser contextualizados e relativizados. A verdade é que não se tratou de uma eleição pura. Os pressupostos constitucionais do sufrágio, voto directo e secreto, imediaticidade, unicidade, liberdade e igualdade de voto, não foram minimamente cumpridos. Tratou-se quanto muito, de uma sondagem, se bem que de fácil manipulação, por via do voto repetido e militante.
Todavia, mesmo assim, os resultados merecem uma análise sociológica. De 159.000 votos, 65.000 foram para Salazar (41%) e 30.000 para Cunhal (19%), o que denota um preocupante gosto nacional, pelos homens providenciais, próprios dos regimes autoritários. Mas reflecte sobretudo um desencanto, e um voto de protesto das populações face a actual situação económica e social do país. Desemprego, corrupção, insegurança são realidades que perturbam em muito, os espíritos, mesmo os mais democráticos.
Basta, frequentarmos um qualquer barbeiro, ou café, para nos darmos conta, de que muitos portugueses, em especial os de mais idosos, manifestam uma simpatia por Salazar. Associam a este, a estabilidade, a segurança, a certeza, a ordem, valores pouco cuidados, no actual sistema democrática.
O que a classe política deve tirar deste concurso não é o drama do ressuscitar do fantasma de Salazar ou Cunhal, mas o sim, o desencontro do cidadão normal, com o caminho que o país leva.
António Cipriano
Os resultados do concurso televisivo “Grandes Portugueses” devem ser contextualizados e relativizados. A verdade é que não se tratou de uma eleição pura. Os pressupostos constitucionais do sufrágio, voto directo e secreto, imediaticidade, unicidade, liberdade e igualdade de voto, não foram minimamente cumpridos. Tratou-se quanto muito, de uma sondagem, se bem que de fácil manipulação, por via do voto repetido e militante.
Todavia, mesmo assim, os resultados merecem uma análise sociológica. De 159.000 votos, 65.000 foram para Salazar (41%) e 30.000 para Cunhal (19%), o que denota um preocupante gosto nacional, pelos homens providenciais, próprios dos regimes autoritários. Mas reflecte sobretudo um desencanto, e um voto de protesto das populações face a actual situação económica e social do país. Desemprego, corrupção, insegurança são realidades que perturbam em muito, os espíritos, mesmo os mais democráticos.
Basta, frequentarmos um qualquer barbeiro, ou café, para nos darmos conta, de que muitos portugueses, em especial os de mais idosos, manifestam uma simpatia por Salazar. Associam a este, a estabilidade, a segurança, a certeza, a ordem, valores pouco cuidados, no actual sistema democrática.
O que a classe política deve tirar deste concurso não é o drama do ressuscitar do fantasma de Salazar ou Cunhal, mas o sim, o desencontro do cidadão normal, com o caminho que o país leva.
António Cipriano