
Proposta de Orçamento para 2008
Numa análise superficial, poder-se-ia dizer que estamos perante uma boa proposta de orçamento de estado. Um orçamento que prevê um deficit orçamental de 2,4%, um crescimento económico de 2,2% e uma redução do desemprego para 7,6%. Todavia as análises superficiais são perigosas e bastante capciosas. Antes de mais, a actual proposta de orçamento baseia-se num pressuposto arriscado, um crescimento económico de 2,2%, quando a generalidade das instituições financeiras internacionais como o FMI, apontam para uma crescimento de 1,8%, reforçado este pessimismo com o actual contexto de valorização excessiva do euro face ao dólar, que contribui para a diminuição da competitividade das exportações nacionais. Obviamente se o crescimento for inferior à 2,2%, as receitas fiscais não serão as previstas, não sendo possível concretizar o objectivo de 2,4% de deficit. Por outro lado, a correcção do deficit mais uma vez não é feita pelo caminho mais correcto. Da diminuição de 0,6%, apenas 50% deste valor é feita pelo lado da despesa. Ao contrário do que os mais incautos podem pensar o real problema das contas do estado não é o deficit, mas sim, a estrutura rígida da despesa pública. Em termos nominais a despesa total e a despesa corrente primária apresentam uma taxa de crescimento de 4%, quebrando desta forma uma das regras cruciais dos processos de consolidação orçamental.
A nível da distribuição das verbas por ministérios, os grandes beneficiários são o ministério da Ciência e do Ensino Superior (aumento em 8,9% da dotação orçamental) e o ministério da Economia (reforço da dotação orçamental em 23,6%). Se de facto ,este incremento de verbas for um meio de auxiliar o reforço das nossas PME´s e da qualificação dos portugueses, então será uma medida acertada. Resta saber, se Manuel Pinho e Mariano Gago têm unhas para tocar esta guitarra.
No que concerne à fiscalidade, para a generalidade dos contribuintes não existe uma alteração significativa dos impostos a pagar. Todavia dois grupos sociais voltam a ser inacreditavelmente penalizados – Pensionistas e Deficientes. Estranhamente ou talvez não, o governo diminui significativamente as deduções específicas a pensionistas e deficientes. De positivo, o aumento das deduções para quem tem filhos até 3 anos e os benefícios fiscais para quem optar pela microgeração de energia.
Por fim uma nota, para dois aspectos. Um negativo - em 2008 as SCUTS vão custar aos contribuintes 704,5 milhões de euros. Um positivo - o estado reconhecendo a necessidade de reduzir os prazos de pagamento aos seus fornecedores pretende reduzir o prazo médio de pagamentos que actualmente esta em média nos 152 dias.
Em corolário, penso que se trata de um orçamento mediano de um governo mediano, em que os portugueses vão continuar a sofrer na pele as dificuldades do dia-a-dia, com a redução do poder de compra, o aumento dos juros, o aumento dos combustíveis, continuando a contribuir demasiadamente para o monstro da despesa pública. De qualquer dos modos, o meu desejo é que o país tenho um bom 2008.
António Cipriano