
Penso que seria mais importante e estrutural se estes milhões fossem aplicados na formação e educação dos portugueses ou no apoio às PME´s.
António Cipriano
Blog de pensamentos duvidosos por Paulo Pinheiro, António Cipriano, António Guimarães, João Pedro e André Lemos.
Depois de dezassete anos sem ouvir falar no acordo ortográfico, eu pensava que ele tinha ficado esquecido numa gaveta qualquer em S. Bento. Mas este governo acabou por descobrir a chave da dita e acordou este monstro adormecido. E então lá voltou a conversa sobre o referido acordo.
A questão da uniformização da Língua Portuguesa é uma situação muito pesada e extremamente complexa. Pode-se dizer muita coisa em sua defesa, como que é benéfico aproximar os diferentes modos de escrever português, e que isso servirá para defender a língua face à crescente importância do inglês que advêm da globalização. Mas a verdade é que é extremamente desequilibrada e quem criou a língua leva com as maiores alterações, tudo porque é mais fácil mudar 10 milhões do que, só no Brasil, 189 milhões.
É verdade que me custa bastante ver a mutilação da Língua Portuguesa “para sua própria defesa”. Preocupa-me ver que neste acordo está presente a eliminação das letras mudas nas palavras. Tal como são eliminados alguns acentos e portanto algumas palavras são alteradas. E qual a razão? A resposta é simples, no Brasil, em 1943, ficou decidido no Formulário Ortográfico, que essas letras como não são pronunciadas deveriam ser eliminadas, foram também suprimidos alguns acentos e alterados outros. Compreendo que eles o tenham feito, eles não criaram a língua e depois da crescente utilização de estrangeirismos que utilizam não surpreendeu ninguém. Quanto à supressão das letras mudas, não venham dizer que é mais prático porque apenas se pode considerar preguiça. Muitos dos acentos foram alterados para aproximar a língua escrita da língua oral e aqui ainda lhes dou razão. Mas daí a terem a pretensão de eliminar a possibilidade da dupla acentuação dependente do país vai uma grande distância, já me estou mesmo a ver a escrever Antônio (nem quando as vacas voarem).
Obrigar os portugueses a aceitar estas mutilações da língua que criaram é absurdo. Não me importo se são 189 milhões que escrevem assim e não me vejo obrigado a mudar aquilo que será sempre a herança mais importante que jamais teremos, só porque um povo que não o meu decidiu um rumo diferente. Se vamos por essa ordem de ideias, porque não aprendermos todos mandarim? Era uma forma de encurtar caminho.
O governo antes de rectificar este acordo deveria, para variar, pensar muito bem. Se não gostam do português, ao menos, que percebam a desigualdade do tratado e vejam quem fez quase todas as concessões.
Não se trata de nacionalismo no pior sentido do termo, trata-se simplesmente de ter pais e professores conscienciosos que me fizeram gostar da nossa língua e de hoje ser eu próprio professor da língua materna.
António Manuel Guimarães