
Caminhos para a Europa
Durante séculos a Europa foi o centro civilizacional, que através do seu modelo económico e cultural liderou todos os restantes continentes. A Europa do Renascimento, a Europa dos descobrimentos e da consequente colonização, a Europa das Luzes, a Europa do Capitalismo – dominou, pela positiva ou pela negativa o mundo que conhecemos.
Com as duas grandes guerras, e em particular a última, a Europa foi perdendo o seu lugar ao sol para os E.U.A e para a URSS. Todavia quer os EUA, como antiga colónia britânica, quer a URSS herança dos Czares, sempre eram produtos culturais e económicos da Europa. No pós guerra a Europa ocidental não mais alcançou a posição cimeira dos EUA na cena internacional. Em termos económicos a Europa por via do projecto de integração europeia voltou à sua posição de gigante económico. De 1945 até ao final do século assistiu-se a uma grande melhoria do nível de vidas dos europeus. Melhores salários, aumento exponencial do poder de compra., emprego, diminuição da jornada de trabalho, aumento da escolarização, mais direitos sociais, aumento da protecção social, reforço dos mecanismos de segurança social, acesso à saúde e à protecção no desemprego.
No novo século, dois gigantes adormecidos despertaram. A China (império do meio) e a Índia acordaram para o desenvolvimento. De lá para cá, ambas industrializaram-se, modernizaram-se a um ritmo incrível, o qual vem minando a competitividade Europeia. Efectivamente a China, a Índia e outros países asiáticos, economias ausentes de direitos sociais e com salários incrivelmente baixos, numa estratégia de dumping social, não deixam salvação à industria europeia. Primeiro nos sectores do calçado, dos têxteis, para gradualmente irem avançado para sectores com mais valor acrescentado como a industria automóvel.
Perante a conjuntura económica selvagem, a Europa passa por um dos seus momentos mais difíceis. Muitos argumentam que o caminho para a Europa é a especialização nos sectores e industrias do conhecimento e da tecnologia de ponta. Obviamente que tal aposta é fundamental, como elemento de diferenciação. Infelizmente no meu ponto de vista tal estratégia é importante, mas não resolve todos os problemas. As indústrias do conhecimento apenas absorvem uma pequena parte da população activa de elevadas qualificações. O que se vai fazer da restante população activa? Quais os sectores, consumidores de mão de obra irão absorver a população activa, sendo necessariamente competitivos?
Na minha opinião existem dois cenários possíveis:
Cenário 1
A Europa opta pelo proteccionismo. Opta por fechar as suas fronteira por meio de pautas aduaneiras duras para com os produtos asiáticos (chineses, indianos, etc). Toda a sua estratégia visa a produção e a satisfação do seu mercado interno de 300 milhões de consumidores. Por esta via as suas industrias tradicionais ou não, deixam de ter como adversário o dumping social asiático. Defende-se o emprego e a competitividade ainda que artificialmente da economia europeia. Mantém-se os direitos sociais, e os mecanismo de solidariedade do estado social. No entanto a sobrevivência do estado social implica uma politica de promoção da natalidade, em simultâneo com um abertura controlada à imigração.
Perdem-se mercados, influência e posição geopolítica, e espírito competitivo
Cenário 2
A Europa mantém os seus mercados abertos e procura competir com as novas potências. Necessariamente, promove uma profunda reforma da sua politica de emprego.
Flexibilização, aumento do horário de trabalho, facilidade de despedimentos, diminuição salarial, redução da despesa pública em encargos sociais, abertura à imigração, desregulamentação sectoriais, reforço das qualificações individuais, etc.
Ou seja opta-se pela perda de direitos e garantias do estado social em troca de competitividade.
Qual é o caminho correcto?
António Cipriano