
Esta semana toda
vi com alguma estupefacção muita polémica sobre o convite feito a Passos Coelho
para passar a integrar o ensino superior como professor catedrático convidado. Este
convite pressuponha dar aulas na área da Administração Pública, pelo ISCSP e
até aqui quase tudo bem, quase tudo correto e bate quase tudo certo, pois o
homem quer se goste ou não, quer se concorde como ele ou não foi primeiro-ministro
e esta será certamente uma área que ele conhece. A única coisa que ponho em
causa é o estatuto que se pretende atribuir, catedrático parece-me
manifestamente exagerado, professor auxiliar ou convidado seria muito mais condicente
e certamente não levantaria nenhum tipo de celeuma. Mas agora por fim vem
aqueles que, para mim, são os grandes problemas, primeiro temos que considerar
os níveis em que Passos irá eventualmente leccionar, ou seja, mestrados e
doutoramentos e aqui já temos um grave problema, Passos irá leccionar alunos
que das duas uma, ou são tão graduados como ele, caso se trate de mestrado, ou
então irá leccionar quem é mais graduado que o professor o que se torna
estranho, pior só se alguém se lembrasse de convidar Passos a integrar um júri quer
de mestrado, quer de doutoramento. Depois por fim vem a parte do salário auferido,
percebo que Passos merece pela sua condição em especial devido ao serviço à
causa pública algum salário condicente, no entanto não podemos esquecer que
existe uma quantidade bem grande de investigadores e professores universitário
que estão há anos e anos a trabalhar, quer a leccionar, quer na investigação de
forma extremamente válida, altamente especializada e a oferecer às instituições
e à humanidade conhecimento e fazem tudo isto de forma precária, com salários
inferiores ao trabalho produzido e muitas vezes sem garantias nenhumas. Almejam
com o seu esforço o topo do reconhecimento académico, passando para isso por
todos graus, como a licenciatura, o mestrado e por fim o doutoramento,
requisito essencial para a cátedra e que agora olham e vêem uma ultrapassagem
justificada apenas pelo conhecimento que advém da experiência, mas sem um
trabalho de investigação ou uma prova superior, ou qualquer outro acto
académico que o justifique. Uma injustiça para quem contra tudo e contra todos
e por menos do que merecia investiga, trabalha, publica, estuda, presta provas,
ensina e vê o reconhecimento a chegar a externos por conhecimento de
experiência. Embora repita que primeiro-ministro não é coisa pouca, mas que certamente
deverá leccionar num grau condicente com o seu próprio grau académico e deverá
ter um estatuto digno, mas não, de forma alguma, o mais elevado grau de
reconhecimento académico que ele academicamente nada fez para o merecer.
António Manuel Guimarães